Por Genaldo de Melo

A violência contra a mulher, mais especificamente os crimes de
feminicídio, não é coisa nova como vem se apresentando na mídia tradicional e
com mais atenção das instituições. Mulheres em todos os tempos sofreram do
resultado macabro do machismo na sociedade brasileira.
A luta pela eliminação das disparidades nas relações de poder entre
homens e mulheres é que pode ser considerada coisa mais recente, porque
necessariamente houve nas ultimas décadas um avanço da distribuição do
conhecimento e da circulação das informações.
Mas pensar em eliminar a cultura do machismo que mata tantas mulheres no
Brasil não é coisa tão simples como tenta apregoar as instituições e a própria
mídia brasileira. O machismo assim como outros vícios de comportamento social é
da natureza cultural brasileira, resultado de nossa formação patriarcal, que
precisa ser combatido em suas próprias raízes.
Não vamos ser ingênuos em acreditar que denunciando apenas poucos
indivíduos e os punindo exemplarmente apenas, vamos necessariamente eliminar
esse mal social. Se não mudar o comportamento da sociedade brasileira
estruturalmente, vai sempre existir assassinos de mulheres com muito dinheiro
para contratar bons advogados e se livrar do problema rindo da própria
sociedade.
O combate ao machismo que causa o feminicídio deve ser resultado de uma
política séria de Estado e de longo prazo. Quem mata uma mulher nessas
condições não tem que ficar livre jamais para voltar a fazer o mesmo com outras
mulheres. Mas essa solução só vai servir para quem já é machista e como
escorpião não vai deixar de picar.
Alem de combater e eliminar o machismo de hoje é preciso que o Estado
forme e eduque as próximas gerações tendo nas prioridades da política
educacional, colocando inclusive na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a
eliminação total do problema da cultura do povo brasileiro.
Somente fazer sensacionalismo midiático com quem acaba de cometer um
feminicídio não vai nunca eliminar o problema da sociedade brasileira apesar de
todo proselitismo atual. É preciso mudar radicalmente a legislação brasileira
para criar as condições de punições severas sem direito a recurso, e ao mesmo
tempo, educar o povo.
A base principal da Quarta Onda do feminismo trabalha exatamente nesse
sentido. As mulheres não querem ser apenas iguais e ter os mesmos direitos na
base da força da lei, elas querem que a sociedade como um todo tenha
consciência disso. As mulheres querem é transformar o modelo de sociedade que
privilegia os homens em detrimento delas. Ou se faz isso para assassinar propriamente
dito a prática do feminicídio, ou o mesmo será sempre e somente capa de
jornais.
*(Publicado originalmente na revista “Mulheres em Evidência” de Feira de Santana – BA)
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