Por Genaldo de Melo
Recebo mensagem de um amigo militante do
Partido dos Trabalhadores que de forma ainda romântica como nos anos oitenta (quando
o partido estava em formação e sonhava com um projeto político para o país, em
que a justiça social fosse de fato o foco principal, em detrimento dos
interesses particulares de apenas alguns indivíduos e grupos políticos e econômicos,
que sempre foram as premissas para o chamado subdesenvolvimento em todos os
sentidos de nosso país) em que o mesmo solicita nossa modesta opinião sobre os
últimos acontecimentos do país em que o ódio de todos os lados parece que toma
conta das ruas do país contra o próprio partido e seu maior líder.
Em seu texto ele que abismado observa tudo em
que o seu partido, em uma correlação de outras forças políticas, transformou o
país numa potência econômica mundial, em que tanto aqueles que são responsáveis
pelo desenvolvimento econômico propriamente dito, como aqueles que são a força do
trabalho, deram-se literalmente bem na sociedade, não entende porque tanta
perseguição política, tanto na mídia como em parcela da sociedade, contra tudo
e a todos que representam as chamadas “cores vermelhas” que assumiram o poder
de um país com a bandeira verde e amarela.
Não posso ser agressivo no discurso contra
esse ingênuo amigo, que parece que não entendeu ainda que política como “coisa
em si” não é sonho de Movimento Social da chamada Sociedade Civil organizada,
que política não é feita apenas pelos santos, porque se assim fosse Deus já
teria perdido o céu. A política é exatamente a arte de convencer de que o seu
projeto de sociedade é melhor do que aquele outro que está sendo apresentado ou
posto em prática. A política é disputa eterna pelo controle dos meios políticos
do Estado. Que para tanto, determinados grupos políticos utilizam os mais
variados meios para chegar a atingir os seus objetivos, que é exatamente o
controle do Estado. Na política o resto é inocência, ou apenas leitura de
teses!
Mas para exemplificar o que digo vou lembrar
um pequeno detalhe da história, um pouco esquecida, mas que serve de exemplo
claro de como funciona o pragmatismo da política sem romantismo. No dia 26 de
abril de 1478 na Florença medieval de Niccolò Machiavelli, este que contava com
apenas nove anos de idade, aconteceu a famosa Conspiração dos Pazzi, uma
tentativa fracassada dessa família de banqueiros e mercadores de tomar o poder
pela força da famosa família dos Médicis.
O planejamento da conspiração política foi
coordenado por Giacomo Pazzi, provavelmente com apoio do Papa Sisto IV, do
Duque de Urbino e do Arcebispo de Pisa. A idéia deles era matar Juliano e
Lourenço de Médici, chamado de “O Mágnífico”, no momento em que estes
estivessem rezando ajoelhados na catedral, e ao mesmo tempo, os homens leais
aos Pazzi, cercavam os palácios públicos tomando o poder “na tora”. A
conspiração não deu certa graças à coragem e a valentia do próprio Lourenço de
Médici, morrendo apenas no atentado seu irmão Juliano de Médici.
Não dando certo a conspiração política, os
Médicis que tinham o poder e o controle de todos os meios políticos, econômicos
e de comunicação na cidade de Florença, convenceram o povo contra a “maldade”
dos Pazzi, que foram perseguidos com tanta ferocidade “bíblica”, que tal fato
da história até hoje é lembrado como o mais cruel contrataque político da Idade
Média. O Arcebispo de Pisa foi enforcado e pendurado na janela mais alta do Palazzo
Vecchio para servir de exemplo aos demais, e os Pazzi de um a um
foram perseguidos, destroçados e esquartejados vivos, queimados e assados em
fogueiras, em praças públicas, começando pelos pés. Para cada membro da família
dos Pazzi ou de simpatizantes que eram detonados publicamente, Botticelli fazia
um grande desenho nas paredes do Palácio Bargello, e Lourenço de Médici fazia
ao lado um verso de seus mais cruéis defeitos morais.
O corpo do líder da família Pazzi foi
arrancado do túmulo e queimado, e teve suas cinzas jogadas no rio Arno para que
seus restos não contaminassem a terra “sagrada” de Florença. Suas lembranças,
seus nomes e quaisquer detalhes que os lembrassem foram encobertos, destruídos
e tirados da história de Florença. Foram literalmente banidos da história do
povo florentino. Como o Papa, que foi aliado dos Pazzi, não se deu por vencido,
pois era apoiado por Fernando I, rei de Nápoles, Lourenço foi pessoalmente à Nápoles e convenceu Fernando a apoiá-lo,
encerrando assim, a conspiração.
Não se pode jamais como meu amigo, militante
petista, que me encaminhou a mensagem acreditar que política tem romantismo, ou
mesmo algum tipo puritano de moralidade, pois quem perdeu reiteradas vezes o
poder que tinha de forma hereditária, necessariamente vai fazer qualquer tipo
de crueldade política, diferente dos métodos utilizados pelos Médicis, porque a
história é outra e os tempos também não permitem, para conquistar o que foi
tomado pelo voto nas urnas. Política não é coisa de freiras...!
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