Por Genaldo de Melo
Quando adolescente em
Sergipe meu maior sonho era conhecer a Bahia. Esse desejo intrínseco na alma
não era somente pessoal, pois toda a minha geração nos meados e final dos anos
oitenta sonhava com isso. Acho que uma das maiores decepções que tive na época
foi quando a turma do Grêmio Estudantil Sílvério Fontes, da Escola Barão de
Mauá veio para Salvador e eu não consegui vim por razões judiciais (eu era
menor de idade e meu pai não conseguiu o visto a tempo). Era a mística da música
baiana que fazia isso com a gente!
Hoje quando conversamos com um
adolescente em Sergipe ou em qualquer outro Estado do Nordeste, esse desejo
recôndito da alma que tínhamos não se ver mais. A Bahia como qualquer outra
terra não tem mais a mística e a efervescência cultural que permeou a história
de Salvador e de Feira de Santana dos anos oitenta. O sonho de conhecer a Bahia
era instigado pelo movimento cultural que nasceu no bairro da Liberdade e no
Pelourinho em Salvador, e no bairro da Queimadinha em Feira de Santana.
Duvido que tenha alguém
daquela geração que tenha ouvido a Banda Mel, a Banda Reflexus, Luís Caldas, os
blocos afros Olodum, Muzenza e Araketu, e outros que faziam a música-cultura,
que não tenha tido o mesmo desejo que a gente tinha de conhecer o maravilhoso
Estado da Bahia! Todo mundo queria conhecer a Bahia de Jorge Amado e seu
personagem Pedro Bala.
Lembro disso para falar que
hoje dois estilos musicais que hegemonizam a atenção da mídia local com músicas
que tratam as mulheres como objetos, incentivam a violência e o estupro, e
criam valores enviesados para a nossa juventude, é que se colocam como o vetor
cultural da sociedade baiana. Nada contra esse tipo de música, mas literalmente
considero lixo cultural, que não atrai mais ninguém para a Bahia!
Hoje falo como baiano
agregado (como dizem os índios Tupinambás de Olivença de Ilhéus). Não estamos
mais fazendo cultura na Bahia, estamos recebendo os restos do pior que existe
do lixo cultural que o mercado de consumo musical está exigindo o tempo todo,
apenas para seu lucro. Não temos mais o processo criativo que fazia da música
baiana uma espécie de feitiço que atraía o Brasil inteiro para esse Estado.
O que está mesmo faltando?
Gente ligada à produção cultural com sangue no olho, que tome a dianteira e
faça o contraponto a tudo que é efêmero na cultura baiana. Pois a Bahia
culturalmente somente está presente no cenário brasileiro hoje por dois ou três
artistas que fazem obras de arte, e não pedaços de retalhos para vender no
mercado dominado pelo consumo e pelo que é efêmero, que futilmente é esquecido rapidamente.
Quero que pelo menos meus
filhos baianos tenham orgulho de ver gente de outros Estados do Brasil que
vierem aqui, porque aqui tem cultura, e não lixo cultural que incentiva tudo o
que não presta e não forma o ser humano, dizendo que aqui sim tem música de
qualidade, música que é de fato cultura.
Tomara que agora com um
chamado Plano Estadual de Cultura aprovado na Assembléia Legislativa da Bahia
possamos pensar melhor a produção musical em nosso Estado, porque o que tem por
aí de músicos fantasmas não está no gibi. É preciso acabar com o niilismo
cultural em nosso Estado!
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