Por Genaldo De Melo
Definitivamente não
conseguimos mais uma vez melhorar o quadro no Congresso Nacional, pois na sua
configuração além do mesmo apresentar-se ainda mais conservador em 2015, ainda
teremos ua esmagadora bancada de deputados que representam interesses de nada
mais nada menos que 10 grandes empresas do mercado nacional. Simplesmente os
dez maiores doadores de campanha nas ultimas eleições participaram
financeiramente da campanha com 360 deputados eleitos, ou seja, as dez empresas
que mais doaram dinheiro elegeram 70% dos futuros deputados.
Não seremos inocentes ao
ponto de achar que os interesses do povo serão mais importantes do que os
interesses de quem financeiramente apoiou a grande maioria dos deputados no Congresso
Nacional. Quando um indivíduo ou um grupo econômico gasta tanto dinheiro para
eleger um deputado ou grupo de deputados, o que se espera destes é que os mesmos
façam o papel de representar os interesses daqueles outros, principalmente na
articulação para participação elementar em licitações públicas.
É constrangedor observar que
homens e mulheres que são sérios e querem contribuir politicamente com o
desenvolvimento de nossa sociedade nunca conseguem se eleger para de fato
representar os interesses de uma sociedade para todos, porque não tem dinheiro
para gastar nas campanhas eleitorais. Enquanto isso, lobistas profissionais são
financiados pelo setor privado para representar não os interesses do povo, mas
interesses particulares.
Entre os financiadores de
campanha formam-se na nova Câmara dos Deputados várias bancadas de interesses. Destacam-se
entre as bancadas empresariais a bancada do bife, a bancada dos bancos, a
bancada da construção civil e a bancada da mineração. Interessante nisso tudo,
é que a bancada que sempre representou e brigou naquela que em tese deveria ser
chamada de casa da cidadania, pelos direitos dos trabalhadores/as brasileiros
diminuiu quase pela metade. Nisso se deduz que a força dos empresários
aumentou, enquanto que a força do povo diminuiu.
A maior bancada presente na
próxima legislatura é a chamada bancada do bife, representada pelas empresas do
grupo JBS, ou seja, aquelas empresas que são proprietárias dos maiores
frigoríficos do país, e que tem em seu quadro os mesmos sócios. Esse grupo
representou em doações R$ 62,2 milhões para 21 dos 28 partidos que terão representação
em 2015 na Câmara dos Deputados, ou seja, 162 deputados dos que foram eleitos
em outubro último tiveram em suas campanhas dinheiro do grupo JBS.
Os bancos também não ficaram
de fora do processo eleitoral, pois formam a segunda maior bancada empresarial.
O grupo Bradesco apoiou 113 deputados eleitos de 16 partidos políticos
diferentes, doando R$ 20,3 milhões. Ficando à frente do banco Itaú que
contribuiu para a eleição de 84 novos deputados também de 16 partidos
políticos, gastando menos com R$ 6,5 milhões. Ambos os bancos aqui citados financiaram
42 deputados ao mesmo tempo, sendo que enquanto o Bradesco privilegiou as
direções partidárias o banco Itaú preferiu apoiar diretamente os candidatos
eleitos.
O grupo Vale tornou-se na
Câmara dos Deputados a terceira maior bancada empresarial da Casa. Foram 85
deputados eleitos, de 19 partidos políticos que receberam nada mais nada menos
do que R$ 17,7 milhões. Um fato curioso das doações da empresa nessas eleições
foi os R$ 800 mil reais doados ao candidato Luís Fernando Faria reeleito pelo
Partido Progressista de Minas Gerais, que já foi o presidente da Comissão de Minas
e Energia da Câmara. Deputado este privilegiado por doações de sete das dez
grandes empresas campeãs em doações nas últimas eleições.
Outra bancada de destaque na
próxima legislatura é a da construção civil, que teve como destaque em doações
a OAS, a Andrade Gutierrez, a Odeblecht, a UTC Engenharia e a Queiroz Galvão. A
OAS ajudou financeiramente com R$ 13 milhões para eleger 79 deputados de 17
partidos políticos diferentes, como por exemplo, o PT, o PSDB e o PMDB. A Andrade
Gutierrez gastou o mesmo valor para contribuir com a eleição de 68 deputados,
enquanto a Odebrecht R$ 6,5 milhões para eleger 62 deputados, a UTC Engenharia doou
R$ 7,2 milhões para ajudar 61 dos deputados eleitos, e a Queiroz Galvão deu R$
7,5 milhões para ajudar a eleger 57 deputados. Aqui é bom lembrar que os
deputados que receberam doações são de vários partidos diferentes e de
ideologias também diferentes, considerando ainda as sobreposições.
Não podemos deixar de
registrar que a AMBEV (proprietária das marcas Antártica, Brahma, entre outras)
que também como a JBS lidera o mercado de produtos de consumo popular no Brasil
contribuiu financeiramente com nada mais nada menos do que R$ 11,7 milhões para
ajudar a eleger 76 deputados de 19 partidos políticos diferentes. A chamada
bancada do churrasco com está sendo considerada para a próxima legislatura que
recebeu dinheiro tanto dos frigoríficos como das cervejarias somam 25 nobres
deputados federais.
Inferindo sobre esses fatos,
por mais que formadores de opinião queiram apresentar-se como contrários a
idéia de uma Câmara dos Deputados atrelada ao jogo de interesses dos grandes
financiadores das campanhas eleitorais de outubro último, os fatos apresentados,
e incontestáveis, por si só serão sempre o contraponto. E contra fatos não existem
argumentos plausíveis!
Desse modo, precisamos sim,
discutir nesse país a reforma política, porque senão jamais teremos poderes
independentes. Assim continuaremos sempre tendo um Estado em função de poucos,
não cumprindo nunca a esperança de um Estado Nacional para todos os brasileiros.
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