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O ensaio da direita para 2014

As forças conservadoras sabem que é fundamental que o PT e Lula saiam enfraquecidos das eleições municipais

 
Editorial ed. 499 - Brasil de Fato 
Desde 2000, quando Marta Suplicy foi eleita prefeita de São Paulo e o PT avançou eleitoralmente nas médias e grandes cidades, contribuindo para a vitória de Lula em 2002, que as eleições municipais não assumiam tanta importância no cenário político. Isto porque estamos diante de um conjunto de movimentações da direita brasileira para derrotar o PT em 2014. A convergência entre o julgamento do chamado “mensalão” no Supremo Tribunal Federal (STF) e as eleições municipais de 2012 não ocorre por acaso.
Nesse sentido, as forças conservadoras sabem que é fundamental que o PT e Lula saiam enfraquecidos das eleições municipais. Para desmoralizar Lula e o PT, num momento de luta eleitoral, está em curso uma parceria entre a imprensa conservadora e um Poder Judiciário avesso às causas populares. Nos planos das forças conservadoras cabe ao dispositivo midiático conservador, liderado pela revista Veja, grupo Globo de comunicação, Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, dentre outros, “linchar” os réus e enraizar na população uma condenação antecipada. Nos planos da direita o STF deve condenar os chamados “mensaleiros”, particularmente nomes históricos do PT, mesmo que para isso se utilize todo tipo de manobra. Ora, que o STF proporcione um julgamento pautado em torno de fatos e provas registradas nos autos do processo. Essa parceria atrasada passa por cima de princípios republicanos elementares.
A tática eleitoral da direita brasileira na presente eleição municipal passa por três frentes batalha. A primeira é explorar as contradições entre o PT e o PSB em capitais como Belo Horizonte, Recife e Fortaleza para tentar fraturar a base de apoio do governo Dilma, separar o PT e o PSB na eleição presidencial de 2014 e diminuir o peso eleitoral do PT no nordeste do país. Passa também por impedir a vitória de Fernando Haddad do PT numa cidade estratégica como São Paulo, mesmo que para isso seja necessário sacrificar José Serra do PSDB e eleger o conservador Celso Russomano do PRB. Finalmente, passa pela tentativa de neutralizar ou reduzir a influência de Lula no processo eleitoral. Aliás, não é mera coincidência que a reacionária revista Veja esteja denunciando Lula como o chefe do chamado “mensalão”. Sabem da popularidade do ex-presidente e de seu potencial de influenciar as eleições.
De fato, as eleições municipais de 2012 terão um peso fundamental para determinar a continuidade do PT na presidência da república pós 2014. Nesse cenário complexo o PT acaba externando suas fragilidades. A principal delas reside no fato de que o PT não consegue formatar um projeto político que politize a classe trabalhadora e que se expresse como uma força social e eleitoral nessa difícil conjuntura. Ou seja, a alternativa capitalista expressada pelo neodesenvolvimentismo em curso não consegue proporcionar ao PT uma força social para enfrentar a direita. Pelo contrário, diversas análises têm ressaltado o caráter conservador da chamada classe C. Ou seja, as iniciativas dos governos Lula e Dilma de melhorar a renda e potencializar a capacidade de consumo da classe trabalhadora não geraram uma força social de mobilização consciente de um projeto político e disposta a defendê-lo. Mesmo assim, o PT conseguiu canalizar eleitoralmente esse setor em diversos momentos. Mas a ausência dessa força social consciente da defesa de um projeto político faz com que esses setores da sociedade que se beneficiaram com o aumento da renda e do consumo tenham uma posição eleitoral instável e imprevisível. Dependendo da conjuntura esse setor da classe trabalhadora se alinha facilmente com a direita.
Portanto, o PT com o neodesenvolvimentismo, ao não politizar as massas, abre um flanco na luta política que poderá proporcionar o avanço da direita. O retorno da direita para o governo federal seria um retrocesso para a integração latino americana em curso. Além disso, não podemos esquecer a influência da crise econômica mundial nesse processo. Essa possibilidade de avanço da direita poderá ser concretizada se o governo Dilma insistir em enfrentar a crise econômica com medidas paliativas e com uma agenda claramente liberal de reduzir o “custo Brasil” em detrimento do avanço das conquistas e dos direitos sociais. O fortalecimento da direita poderá ser contido se novos personagens políticos entrarem em cena na luta de classe no Brasil. Ou seja, se esta jovem classe trabalhadora que é produto das contradições do neodesenvolvimentismo assumir um projeto político pautado em reformas estruturais na sociedade.
A crise econômica mundial traz diversos impactos negativos para a classe trabalhadora, mas também é oportunidade de construção de novas alternativas. Sem projetos políticos definidos e polarizados na sociedade, a mesmice e a ausência do debate de projeto estratégico tomam conta das eleições. Esse é o cenário ideal para a direita. Só um período histórico de retomada das lutas sociais pode construir uma correlação de forças favorável à classe trabalhadora.

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