Por Genaldo de Melo
Somos tão diversos e tão difusos
em paradigmas em nossa sociedade que sempre precisamos atender ao axioma de
reconhecer as qualidades dos inconvenientes, mesmo que nos incomodem. Assim precisamos
compreender que nossas opiniões não devem, e não serão jamais o centro do mundo
ou verdadeiras verdades absolutas, bem como a opinião dos outros não são luzes
que vão iluminar e salvar o mundo. Principalmente quando discutimos assuntos
referentes ao mundo político.
Mas nas últimas semanas no
Brasil uma disputa de opinião vem pautando politicamente a mídia brasileira e os
setores de opinião pública. Grupos de interesses estão hegemonizando disputas,
que aqueles que não oferecem resistência a raciocínio, sabem muito bem que o
consolo final de tudo isso é o poder pelo poder. Aliás, sempre está na linha de
frente que os fins justificam os meios. São evangélicos brigando com minorias,
sem compreenderem que na democracia todos têm os mesmos direitos.
Nossa preocupação agora são
os proselitismos, que maquiavelicamente nos coloca num paredão. Não podemos opinar
e expressar o que pensamos sobre determinados temas em voga, porque senão
seremos estigmatizados como sendo “isso” ou “aquilo outro”. Estamos chegando
numa situação que é muito perigoso dizer ou defender qualquer tese, pois
podemos incorrer no risco de sermos taxados de qualquer coisa que se
caracteriza crime. Mas não podemos deixar de aproximar o olhar para o perigo de
sermos daqui a pouco uma República governada por uma minoria impondo seus
interesses para a maioria.
Parece que os evangélicos no
Brasil chegaram a conclusão que devem eles próprios governar o país, principalmente
depois do midiático e polêmico Deputado Pastor Marco Feliciano (PSC) assumir a
presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados
e causar vexames públicos com suas opiniões individuais sobre exatamente
minorias que ele deveria em tese começar defender pela natureza do seu cargo.
Mas a coisa não começa com o
polêmico deputado e seus interesses políticos. Há algum tempo determinadas e
conhecidas igrejas evangélicas vem pautando politicamente os parlamentos e os
espaços de discussão sobre temas públicos, colocando seus valores como se
fossem absolutos. Estamos chegando num momento em que estão confundindo
política com moral religiosa como se não vivêssemos num país de diversidade
religiosa e política. Se não tomarmos cuidado daqui a pouco será necessário que
seguidores de Maomé ou Buda deverão sair do país porque o mesmo terá dono, ou
seja, exatamente as igrejas evangélicas conhecidas e seus interesses. Tenho medo
disso!
Num país multicultural fatos
absurdos têm sido colocados em pauta e ninguém vem observando de perto isso. Vejam
que em Vila Velha (ES) colocaram e aprovaram um projeto de lei no mínimo
ridículo, ou seja, obrigando as mulheres a casarem de calcinha, como se elas
tivessem a obrigação de mostrar na igreja no momento do enlaço matrimonial suas
partes íntimas para provar que estão com a vestimenta em questão. Em Ilhéus
(BA) aprovaram um projeto obrigando as crianças a rezarem o Pai Nosso nas
escolas públicas, quando o Estado é laico. Em Passo Fundo (RS) na Câmara de Vereadores
antes das sessões legislativas é obrigado por lei ler trechos bíblicos, como se
não houvesse condições de existir naquele espaço um vereador de outra denominação
religiosa. Em Feira de Santana (BA) é proibido beber em bares na sexta-feira da
paixão, porque tem gente que não gosta de cerveja. Ou seja, a religião está
pautando o Estado e o Estado não pode pautar a religião. É perigoso isso, pois onde
está a liberdade de expressão religiosa propriamente dita?
Pelo que vemos em períodos
recentes a Associação de Parlamentares Evangélicos do Brasil (APEB) vem
incentivando em todos os cantos desse país a criação de Frentes de Parlamentares
Evangélicos (FPE’S), seja nas câmaras de vereadores, seja nas assembleias legislativas
e daqui a pouco na Câmara e no Senado. Qual é mesmo o interesse disso? Fundamentalismo
religioso sempre foi perigoso na história e não deu em nada de bom em lugar nenhum
e a história que é segundo o homem de Florença a prova dos nove, está ela aí
mesmo para comprovar, inclusive no nosso tempo.
Para quem não é cego
politicamente sabe muito bem que alguns grupos religiosos vêm perigosamente
colocando seus interesses políticos em primeiro lugar e que os interesses da
diversidade cultural e religiosa desse país que se dane! Religião e política não
podem ser confundidas como sendo uma coisa única. Religião é religião e
política é política, mesmo que religiosos participem da política porque isso é
democracia.
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