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As futuras gerações educadas para não serem livres

Por Genaldo de Melo
Recentemente a sociedade brasileira foi pega de surpresa com a publicação de uma reportagem na Folha de São Paulo, afirmando que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) elaborou uma pesquisa em que seus resultados apresentam incontestavelmente que o ensino de filosofia e sociologia prejudica a aprendizagem dos estudantes em matemática.

Talvez numa cruzada para acabar com a possibilidade dos estudantes brasileiros serem mais críticos em relação ao processo de desmonte do Estado brasileiro, assim como vem fazendo os defensores da tal Escola Sem Partido e os novos burocratas do Ministério da Educação (MEC), querem, porque querem, acabar com disciplinas que podem fazer com que nossas gerações futuras tenham cidadãos que pensem por si mesmos.

Comparar o ensino de filosofia e sociologia, aonde nossos estudantes podem ter um nível intelectual mais avançado, com o ensino de matemática, que em muitas das vezes somente vem servindo como parâmetro de desempenho em concursos públicos, é uma leviandade além do que pode ser tolerado desses novos representantes políticos, que querem coordenar o poder no Brasil sem o voto consciente do povo.

E para mais surpresa geral, o coordenador da pesquisa, que também é diretor adjunto do IPEA, foi Adolfo Sachsida, que foi até janeiro passado o coordenador econômico da campanha à presidência da República, de nada mais nada menos do que Jair Bolsonaro. Não se podia esperar muito de um sujeito que defende com unhas e dentes pautas liberais como o Estado Mínimo, o porte de armas, o cerceamento do direito ao aborto, e que afirmou peremptoriamente que o nazismo era um regime socialista e que Hitler era de esquerda.

Defender a tese de acabar com o ensino de filosofia e sociologia nas escolas públicas, porque está atrapalhando o ensino da matemática, é tentar condenar as futuras gerações a não serem empreendedores como outros povos do mundo. Ou seja, é querer criar uma nova geração de cidadãos incapazes de atos reflexivos, incapazes de construir processos empreendedores que melhorem nossa sociedade, e incapazes de serem livres. 

O que o Estado brasileiro deveria fazer para ser em pouco tempo uma nação mais rica cultural e intelectualmente falando, seria contratar os 33.560 professores de matemática, e os 17 mil docentes de filosofia, para resolver o déficit desses profissionais, conforme estudo apresentado em 2015 pelo Ministério da Educação, e não procurar inventar mentiras de que filosofia e sociologia atrapalhando a matemática, atrapalha o aprendizado dos estudantes.

Os próprios resultados do ENEM desmentem os resultados da pesquisa de Sachsida do IPEA, pois a média das notas dos estudantes nas últimas quatro avaliações na área de Matemática e suas Tecnologias cresceu de 481 pontos em 2014 para 518,5 em 2017, enquanto que a área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, onde  estão as disciplinas de filosofia e de sociologia,  diminuiu de 546 pontos para 519,3 em 2017.

Dizer que é mais importante os alunos aprenderem a matemática do que serem livres pensadores é uma leviandade cultural de gente que não quer povo, quer mesmo é massa de manobra e novos escravos para serem empregados daqueles que têm a possibilidade e o dinheiro para estudar a própria filosofia e a sociologia. Essa pesquisa parece que tem um só fundamento: justificar a retirada dessas disciplinas do Ensino Médio.

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