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Aurora, Colorado (EUA): as pessoas já não valorizam a vida

Editorial do Vermelho


"O que está errado em nossa sociedade é que as pessoas já não valorizam a vida". Esta frase, do diretor da escola secundária de Columbine, Frank De Angelis, foi um comentário a respeito do assassinato de 12 pessoas ocorrido na sexta-feira (20) na localidade de Aurora, no estado do Colorado (EUA). O assassino alvejou as pessoas durante a estreia do filme Batman: o cavaleiro das trevas ressurge, deixando outros 58 feridos.

Columbine, palco de um massacre semelhante ocorrido em 1999 (onde 13 pessoas foram mortas por dois estudantes, que também morreram no ataque), fica a 35 quilômetros de Aurora, mas a frase do diretor De Angelis refere-se a toda a nação norte-americana.

O principal suspeito dos assassinatos em Aurora é o estudante James Holmes, de 24 anos. Ele invadiu o cinema com um fuzil AR-15, uma escopeta Remington e uma pistola automática Glock. Tinha mais de seis mil balas e antes de abrir fogo lançou uma bomba de gás lacrimogêneo. As armas que usou, sofisticadas e de grande potência, dispararam 60 tiros por minuto.

O ataque ao cinema em Aurora é mais um episódio de uma série que cresce desde 1980. Ela parece ser uma “instituição” norte-americana: calcula-se que 84% destas ações sangrentas em todo o mundo ocorrem nos EUA. E há uma forte discussão a respeito. Em primeiro lugar, crimes desta natureza seriam decorrentes do avanço do conservadorismo e do individualismo no país.

Outro aspecto é o arraigado preconceito conservador, reforçado por pressões da direita e da indústria de armas, de que a liberdade de portar armas, garantida pela Constituição dos EUA, é um direito individual intocável. Preconceito que condena qualquer possibilidade de regulamentar o porte e uso de armas.

Os críticos da liberdade do porte de armas associam assassinatos em massa a esse direito irrestrito e descontrolado que permitiu ao assassino de Aurora comprar livremente seu arsenal nas lojas locais e pela internet, sem qualquer questionamento. O livre comércio de armas, acusam os críticos, está na base também dos 30 assassinatos diários cometidos nos EUA, com armas ilegais. A senadora Dianne Feinstein (Califórnia) fez um questionamento contundente: "Você não precisa disso para autodefesa, precisa?", disse ela, comentando a venda livre de pentes com capacidade para cem balas, semelhantes aos usados por Holmes.

A pergunta da senadora tem sentido, principalmente quando combinada com a afirmação do diretor da escola de Columbine: a livre venda de armas transforma-se numa receita explosiva quando, num cenário de acirramento da competição entre os indivíduos, as pessoas perdem o valor à vida. É um sintoma de grave desagregação social numa sociedade que vive, além da profunda crise econômica, uma crise de valores éticos e morais. Um exemplo foi a reação paradoxal dos habitantes de Aurora: no dia seguinte ao ataque, a venda de armas na cidade aumentou 41%, a pretexto da necessidade de autodefesa!

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