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Livres, juntos e sozinhos

O respeito e a convivência com o outro é que todo ser vivo, que tem direitos e não é apenas uma mercadoria ou um objeto de uso humano, consolida a sustentabilidade do planeta
Marcelo Barros - Brasil de Fato

Nesta quarta feira, 11 de julho, a ONU celebra o dia mundial da população, evento anual, criado em 1987, exatamente na data (11 de julho) na qual a humanidade atingiu a marca de cinco bilhões de habitantes. Vinte e cinco anos depois, já somos mais de sete bilhões de seres humanos e a data serve para aprofundarmos o que significa viver em um planeta no qual, a cada ano, a população humana cresce e os bens da terra, como água, ar e alimentação, se mostram limitados, afetados pela ação humana e sob ameaça de se tornar insuficientes.

Alguns países pensam resolver o problema da população com regras rígidas de controle de natalidade. Antigamente, os casais deviam ter os filhos e filhas que Deus lhes desse. Hoje, a humanidade compreende que ser pai e mãe deve ser um ato consciente e responsável. É preciso sim que as famílias tenham um planejamento ético e justo de seus filhos. De modo algum isso justifica o egoísmo de quem se nega a ter filhos para não ter de cuidar de alguém. Nem legitima políticas que esterilizam mulheres pobres ou importam métodos anticoncepcionais para países da África. Não se trata de selecionar quem tem ou não direito a ter filhos. Por outro lado, a cada dia, fica mais claro: não é simplesmente diminuindo a taxa de natalidade que a humanidade resolverá a questão da sustentabilidade e do futuro da vida para todos. De acordo com os cientistas, o planeta Terra tem todas as condições de alimentar e sustentar até onze bilhões de pessoas. Como dizia o Mahatma Gandhi: “o mundo tem o suficiente para saciar as necessidades de todos os seres humanos, mas não basta para a ganância e a ambição dos ricos”. A humanidade precisa mudar a cultura com a qual se relaciona entre si e com o planeta que habita. Um sistema social e econômico que gera desigualdade e aprofunda injustiças sociais só pode resultar em violência e infelicidade para todos. Somente uma organização social que se preocupe com todos os seres humanos e busque a igualdade e a justiça é ecologicamente sustentável e socialmente justificável.

Antigamente, a humanidade vivia no campo e a densidade populacional era fraca. Hoje, a maioria das pessoas vive em cidades. Já se contam em milhares as metrópoles com mais de um milhão de habitantes. Já somam 23, as cidades com mais de dez milhões de habitantes, entre as quais São Paulo já ultrapassou vinte milhões. Nessas sociedades, ao menos aparentemente, o ideal humano é de liberdade máxima de cada um e se pode dizer que essa liberdade supõe o mínimo de orientação. O liberalismo é um regime econômico, mas é também cultural. Cada um faz o que quer e vive como quiser. Muitas pessoas optam pela cidade grande justamente por causa do anonimato. Ninguém se mete na vida de ninguém.

Estamos sempre mais juntos e ao mesmo tempo, cada vez mais sozinhos. Isso é tido como liberdade. Nesse contexto, filósofos judeus como Emmanuel Mounier e Martin Buber, baseados em sua fé bíblica, insistiram no valor básico da alteridade: descobrir a importância do outro, aceitar que dependemos uns dos outros e aprender a viver a partir do outro. Essa abertura para o outro, humano, garante uma convivência baseada na justiça e na paz. O respeito e a convivência com o outro é que todo ser vivo, que tem direitos e não é apenas uma mercadoria ou um objeto de uso humano, consolida a sustentabilidade do planeta. Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano, assassinado por Hittler na Alemanha nazista, afirmava: “O Cristo está em mim para você e está em você para mim. Em mim, ele é fraco para mim mesmo e é forte para você. Em você, ele é fraco para você e é forte para mim”. Assim, encontramos uns nos outros a presença divina.

Marcelo Barros é monge beneditino.

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