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A volta do PRI

Por Emir Sader

Como as pesquisas anunciaram desde o começo da campanha eleitoral, o PRI ganhou a eleição e volta a presidir o Mexico por seis anos. Pena Nieto saiu vencedor das eleições, derrotando Lopez Obrador, o candidato da esquerda, e Josefina Vazquez, do PAN, governante por 12 anos.

Favorito desde o começo, pela força acumulada pelo PRI nas vitórias para governadores da grande maioria dos estados, além do monopólio das duas maiores cadeias de televisão, cujo apoio ostensivo foi denunciado pelos estudantes, o que levou à perda de uma porção da vantagem de Nieto, insuficiente para derrotá-lo.

Paralelamente Lopez Obrador conseguiu diminuir boa parte da rejeição que bloqueava seu crescimento no início da campanha, cresceu, assumiu o segundo lugar, mas teve essa ascensão freada na fase final da campanha. Lopez Obrador fez uma bela campanha, defendendo firmemente posições de esquerda.

A campanha se centrou mais em torno do tema da violência do que da economia, o que favoreceu os dois candidatos da direita. O modelo neoliberal, que durante mais de duas décadas aumentou muito a exclusão social, a desigualdade, a miséria no México, não esteve no centro dos debates, poupando de certa forma os dois partidos da direita, responsáveis por essa política.

Há 6 anos o PRI ainda sofria os desgastes das décadas de governo, depois da sua derrota, pela primeira vez, em 2000, e o PAN se ressentia do desgaste do governo Fox. A vitória de Lopez Obrador foi impedida por fraudes evidentes, terminando a apuração com um resultado que favoreceu a Calderon por 0,5%. Não ficaram dúvidas de que a vitória do PAN se deveu à fraude.

Desta vez o PRI chegou fortalecido pela recomposição da sua estrutura em nível nacional, reconquistando grande parte do governo dos estados, valendo-se do enfraquecimento do governo de Calderon, sobretudo pelo fracasso do seu carro-chefe, a guerra contra o narcotráfico. O PRD, por sua vez, perdeu vários governos, como resultado de crises internas constantes, que foram superadas só no começo da campanha, mas depois de ter se enfraquecido como partido em nível nacional.

Lopez Obrador fez uma longa campanha formando comitês popular de um movimento novo, confiando que seria a base fundamental da sua campanha. Conseguiu reunificar o partido e a esquerda, contou com o excelente governo que continuou tendo na capital, onde elegeu, pela terceira fez seguida, o governador.

Não foi suficiente, mas confirmou que a esquerda, quando consegue ganhar, governa muito bem. O maior problema é conseguiu triunfar em um país com grande monopólio privado da mídia e com dois partidos de direita que estão se alternando na presidência. Além disso, pode ter havido fraude, como acha a maioria dos mexicanos.

O sistema politico mexicano se baseia no estranho critério de apenas um turno e o mandato de 6 anos. Em 2006, vencendo com fraude, Calderon obteve 6 anos na presidência. Agora o PRI pode recomeçar um ciclo longo de governo.

O maior obstáculo pode estar no provável final do ciclo de Lopez Obrador e o começo da época de liderança de Marcelo Ebrard, que sai do governo da capital fortalecido por bom governo, e representa uma alternativa mais moderada do que Lopez Obrador.

Mas contará a favor da esquerda a armadilha que o Mexico armou para si mesmo, quando assinou o Tratado de Livre Comercio da América do Norte, que bloqueia a capacidade do país de sair do modelo neoliberal, sofrendo, ao contrário, de forma direta, os influxos da recessão que continuará a afetar os países do centro do capitalismo, incluído os EUA, com quem o México tem mais de 90% do seu comércio exterior.

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