Pular para o conteúdo principal

O filme dos nossos dias

Por Saul Leblon, Blog das frases
A Espanha sangra. Como um touro ajoelhado na arena, suas ventas pulsam de cansaço e dor. Quinze dias após anunciar o maior arrocho orçamentário em tempos de democracia, o governo direitista do PP voltou à carga nesta 4ª feira para admitir que já não é governo, já não decide, tampouco tem o que dizer aos cidadãos, exceto que 'não há escolha: o teto anterior de sacrifício não foi suficiente, será preciso uma nova volta nas turquesas que comprimem as ventas da Nação.Foi o que balbucionou o premiê Mariano Rajoy ontem, antes de assumir o papel de porta-recados do Eurogrupo.

A direita entregou a soberania do país em troca de 30 bilhões de euros, ajuda carimbada para salvar os bancos da 4ª maior economia da UE e líder no pódium do desemprego. Bruxelas governa, Madrid obedece. As ordens são para elevar impostos, cortar salários públicos, reduzir o auxílio-desemprego, arrochar as aposentadorias, reestruturar a banca.

Nesta 4ª feira, por um instante, o animal acuado no qual o país se transformou renasceu nas ruas. Uma coluna de operários do carvão percorreu 400 kms desde as minas da Astúrias até Madrid, onde chegou pela manhã para protestar contra cortes em subsídios que praticamente condenam aqueles que vivem debaixo da terra à sepultura acima dela. Numa sociedade anestesiada pelo próprio desmanche, a chegada triunfal da coluna de mineiros da Astúrias foi ovacionada nas ruas por milhares de pessoas, como se fosse possível recontar a história a partir de um outro enredo.

Madrid saudou na 'marcha negra' a miragem daquilo que a crise sonega à Espanha e ao mundo após décadas de rendição ao neoliberalismo: a presença altiva de um partido capaz de reunir os cacos da sociedade e reordenar a economia e a democracia a favor de seus cidadãos. A entrada triunfal dos mineiros em Madrid lembra a cena de um filme romântico (leia reportagem nesta pág).

Diferente do cinema, na realidade áspera da crise, os mineiros e seus congêneres continuam deslocados num enredo em que o Estado não se impõe aos mercados, o capital privado não se dispõe a investir , as corporações não contratam e os partidos tradicionais da esquerda se comportam como coadjuvantes contemplados com uma única fala: 'Não há escolha'.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LITERATURA

 

A cada dia aumenta o número de pré-candidatos em Feira de Santana, agora é Dilton Coutinho

Por Genaldo de Melo Mais um nome entra na fogueira das discussões e cogitações para ser candidato ao Paço Municipal em Feira de Santana, e o assunto não deixa de ser cogitado hoje em rodas de conversas, jornais, sites e blogs, além do mundo política da cidade. Dessa vez surge como candidato o radialista Dilton Coutinho, nome bastante conhecido nos meios de comunicação local. Ontem em entrevista no seu programa Acorda Cidade na rádio Sociedade de Feira FM o deputado federal Fernando Torres (PSD) disse ser pré-candidato a prefeito, mas caso Dilton resolva ser do mesmo modo, ele oferece seu partido para abrigar o comunicador como candidato: “Eu sou pré-candidato a prefeito de Feira de Santana, mas se você for Dilton Coutinho eu abro mão. O PSD está a sua disposição amigo Dilton Coutinho”, disse Fernando Torres, presidente do PSD no município. Do mesmo modo a discussão apareceu ontem na Câmara de Vereadores pela vereadora Eremita Mota (PDT e pelo vereador David Neto (PTN).

A verdade sobre o esvaziamento das palavras golpe e "Fora Temer"

Por Genaldo de Melo Com a falta de povo nas ruas a mídia trabalha constantemente o esvaziamento do sentido real da palavra "golpe" que está acontecendo de fato.  A palavra "golpe" repete-se, repete-se, e repete-se como um mantra que perdeu o significado.  Num momento tão crucial como este, em que o projeto de governo eleito pelo voto democrático está sendo trocado por outro completamente diferente e que não passou pelo crivo das urnas, substituíram as grandes mobilizações de massa pela ação individual alegórica, pois se pulverizou a indignação popular apenas na palavra “golpe” nas redes sociais e em cartazes.  É impossível não notar que isso ocorre ao mesmo tempo em que a tradicional mídia jornalística trocou a aguerrida cobertura dos acontecimentos econômicos e políticos por um atual tom de meras trivialidades.  Quem acompanha o noticiário político e econômico não deixou de perceber que a mesma indignação que impulsiona inúmeras matérias jornalísti...