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A onda de suicídios na Grécia

 

Por Altamiro Borges
Reportagem publicada na semana passada pelo jornal alemão Der Spiegel revela toda a gravidade da crise que castiga a Grécia. Ela não trata dos números frios da economia, da queda da bolsa de valores ou dos planos de austeridade fiscal do governo rentista. Aborda a situação dramática de uma sociedade assustada com o aumento do índice de suicídios. São relatos de pessoas que se matam por puro desespero. São trabalhadores desempregados, aposentados sem direitos, pequenos empresários falidos, jovens sem perspectiva.
Conforme lembra o artigo, assinado por Barbara Hardinghaus e Julia Amalia Heyer, a Grécia sempre apresentou as taxas mais baixas de suicídio na Europa, até em função da Igreja Ortodoxa, hegemônica no país, ser contra esta prática. Em junho passado, porém, foram registradas 350 tentativas de suicídio e 50 mortes apenas em Atenas. A maioria dos casos ocorreu entre membros da classe média e, em muitos deles, o ato em si foi realizado em público, quase como se fosse uma manifestação de protesto.
"Um fim digno à minha vida"

A reportagem cita o caso de Dimitris Christoulas, um farmacêutico de 77 anos que se matou com um tiro na Praça Syntagma, no centro da capital grega. Em 4 de abril, pela manhã, ele se encostou numa das árvores da praça, segurou a pistola contra sua têmpora e puxou o gatilho. “Meu pai era uma pessoa política, um lutador”, diz a sua filha, Emily. Dimitris era militante do movimento “Não pagaremos”, que rejeita o acordo de pagamento da dívida externa imposto pela troika – FMI, Banco Central Europeu e União Europeia.
“O governo aniquilou todos os traços da minha sobrevivência, que se baseava na pensão digna para a qual contribuí por 35 anos sem ajuda do Estado. Não vejo outra solução do que este fim digno à minha vida, para que não me veja revirando latas de lixo em busca de sustento. Eu acredito que os jovens sem futuro algum dia pegarão em armas e enforcarão os traidores deste país na Praça Syntagma”, escreveu o farmacêutico no seu bilhete de despedida.
 
"Uma tragédia constante"
A reportagem também cita um caso que ficou famoso – o da mulher de 90 anos que saltou para a morte de um terraço de cobertura na Praça Vathi. Depois se descobriu que ela não pulou, mas foi jogada pelo seu filho, Anthony Perris, um músico de 60 anos. Na sequência, ele também saltou e se espatifou no chão. Perris cuidou de sua mãe, que tinha Alzheimer e câncer, por 20 anos. Diante das dificuldades financeiras, ele partiu para o desespero. “Minha vida se tornou uma tragédia constante”, escreveu no bilhete de despedida.

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