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Irã: o que está por detrás do embargo europeu

Por Anna Malm, Estocolmo (Opera Mundi)

Não só as vastas reservas de energia e recursos naturais do Irã atiçam a cobiça dos dirigentes dos países economicamente impotentes da União Europeia assim como do líder deles, os Estados Unidos. Sabemos que sempre foi essa cobiça de mãos dadas com a debilidade econômica que esteve por detrás das guerras ilegais dos últimos vinte anos, a última das quais a da Líbia.

Agora temos que os caminhos que levam à Moscou e a Pequim passam por Teerã, capitais essas localizadas respectivamente na Rússia, China e Irã. O que se tem passado em relação às atitudes ocidentais agressivas dos últimos anos em relação à Síria e ao Irã enquadra-se também num ramo de maiores considerações políticas geo-estratégicas. [1]
No estudo apresentado em [1] considera-se que os caminhos que levam à Moscou e à Pequim passam por Teerã do mesmo modo que os caminhos que levam à Teerã passam por Damasco na Síria, Bagdá no Iraque e Beirute no Líbano.

Ressalta-se que os EUA querem controlar o Irã por razões políticas e econômicas assim como para satisfazer as suas próprias necessidades de energia. Eles querem também poder controlar a forma de pagamento da exportação do petróleo do país. Querem que o pagamento das exportações de petróleo do Irã seja feita em dólares.

Isso é para que o uso global e contínuo do dólar nas transações internacionais seja mantido e não dilapidado, como tem sido nos últimos tempos. Lembramo-nos que o uso do dólar como moeda de pagamento internacional é uma das duas pernas em que o controle americano sobre o mundo se sustenta, apesar dos pesares. Digo apesar dos pesares porque o dólar não tem valor nenhum por si mesmo.  Poderia e deveria ser trocado por sistemas de pagamento mais condizentes com a realidade de 2012 e não condizente com a realidade de 1945, como é o caso.  A outra perna em que o poder americano sobre o mundo se sustenta é a força militar.

Controlando o Irã através de um regime de marionetes posto no poder através de uma guerra dirigida pelos EUA e executada pelos seus aliados (como foi o caso na Líbia e como estão ameaçando a fazer na Síria) Washington também estaria a pôr uma corda no pescoço da China.

Essa corda deveria ser apertada ou afrouxada de acordo com os interesses norte americanos, dando a eles o controle da segurança energética da China. Se a China não se comportasse de acordo com os interesses americanos lá estariam eles a estripá-la através do estripamento do fornecimento do petróleo. Estripamento esse que seria garantido pelas marionetes estabelecidas no Irã ao custo do sangue de muitos milhares e milhares de inocentes no país e no Oriente Médio, assim como à custo de uma destabilização econômica no mundo inteiro, se não por uma catástrofe global.

É fato de conhecimento geral que a ameaça de guerra aberta que vemos hoje é uma continuação dos acontecimentos desencadeados por ações encobertas já há uns anos. Essas ações encobertas incluem serviços de informação específica, ataques e vírus cibernéticos, grupos militares secretos, espiões, assassinos, agentes de provocação e sabotadores agindo contra o Irã em favor dos interesses ocidentais.
O sequestro e assassinato de cientistas iranianos e de comandantes militares é de conhecimento público.  Sabe-se de diplomatas iranianos sequestrados no Iraque e de iranianos visitando a Arábia Saudita e Turquia que foram detidos e sequestrados. Sabe-se de oficiais sírios, assim como vários palestinos e representantes do Hezbolah que também foram assassinados. Ressalta-se que esses foram assassinados e não detidos e colocados perante um tribunal de Justiça.

Pressupõe-se que Israel tenha atacado o Líbano não só para exterminar ou pelo menos enfraquecer o Hezbolah, mas também para estrategicamente ferir a Síria.  É como dito, os caminhos que ferem a Síria vão através do Líbano. Os caminhos que estrategicamente ferem Irã vão através da Síria. Os caminhos que estrategicamente ferem ou afetam a Rússia e a China vão através da Síria e do Irã.

Síria é o apoio e o eixo do bloco da resistência contra os abusos ocidentais na região. Essa resistência é apoiada pelo Irã. Há já cinco ou seis anos que os EUA seguido dos seus irmãos em armas tentam desligar a Síria do Irã. Essa tentativa vinha sido feita por esforços de seduzir a Síria. Sendo que o país não se deixou seduzir pelas ofertas ocidentais, as tentativas de sedução já se transformaram em ameaças e preparações de guerra.

Combater a Síria é combater o Irã. Esse é um ponto central a se ter em conta no contexto atual. A balança do poder e da influência política hoje na região tende a favor do Irã, mas nada enfraqueceria mais o Irã do que a perda da Síria.

Há aqui cenários potenciais e devastadores. O Irã se manteria passivo frente a um ataque à Síria, ataque esse liderado pelos interesses ocidentais? Podemos pressupor que não. Os EUA não desejam que esse potencial cenário veja a luz do dia. O que eles querem é atacar a Síria e depois atacar o Irã, não os dois juntos. Seria demais até mesmo para os EUA-EU-OTAN. Isso já para nem se mencionar a cadeia de acontecimentos a serem desencadeados imprevisivelmente.

A marcha para uma guerra total e devastadora continua enquanto os EUA intensificam a guerra política e econômica da qual a decisão de embargo da União Européia só é um passo a mais.  É uma marcha fúnebre dirigida por loucos falidos e letalmente armados.     

REFERÊNCIAS E NOTAS:

[1] Mahdi Darius Nazemroaya, é sociólogo e autor consagrado especializado em questões do Oriente Médio e da Ásia Central. Tendo estudado e analisado em extenso a situação atual ele argumentou em favor do núcleo das idéias que aqui retransmitimos. Originalmente o núcleo sequencional das idéias e conclusões aqui apresentadas foram publicadas em "News"- "Obama´s Secret Letter to Tehran: Is the war against Irã on Hold?   Em Strategic Culture Foundation,  Moscou.
*Artigo publicado originalmente em Iran News.

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