Por Genaldo de Melo


Comemoramos
no último dia 20 de novembro do ano passado o Dia da Consciência Negra, porém
considerando que todos os dias do ano devem ser naturalmente comemorados os
valores dos povos afrodescendentes, que foram os grandes responsáveis pela
construção das riquezas do Brasil. Com esse fato devemos fazer uma profunda
reflexão do que foi a escravidão no Brasil, se ela de fato acabou, bem como
também passar um olhar mais profundo sobre os novos aspectos da escravidão
moderna imprimida pelo poder econômico dos novos dominadores do mundo.
Precisamos
não somente do dia 20 de novembro para relembrar nossas raízes africanas, pois
deveremos o tempo todo repensar novas formas de consciência e de luta perante
um inimigo que hoje consegue superar inclusive os métodos de escravizar pessoas
do antigo Império Romano, que é o Capital. Com a queda deste Império acaba-se
oficialmente a escravidão no mundo, apesar dela nunca ter deixado de existir,
pois o Capital necessariamente sustenta-se da escravidão de seres humanos,
subjugados ao interesses particulares de poucos.
Com
a necessidade de manutenção de seu “status quo”, o Capital (já existente de
forma disfarçada e ainda medíocre), diga-se os ricos de Portugal, Espanha e
outros países que por estas terras pararam, calculadamente, segundo Celso
Furtado, inventou de novo de modo oficial a escravidão negra. Quem eles
escolheram para isso? Os povos da África que viviam tranqüilos com seus valores
culturais, religiosos e paradigmas, porém desarmados. E um homem ou mesmo um
povo desarmado jamais enfrentam um carrasco “armado até os dentes”.
Quando
a gente fala contra o Capital e seus métodos, às vezes ainda somos chamados de
comedores de crianças indefesas. Quando a gente fala que ainda existe escravidão
no Brasil e nas Américas, somos considerados os românticos adeptos da subversão
do Oficial. Quando a gente chama as pessoas para fazerem uma profunda reflexão
no dia 20 de novembro, a gente precisa ter o cuidado, como se fossemos culpados
de alguma coisa, para não sermos observados pelos 20% da população detentora do
Capital, como negros metidos “a besta”, querendo formar opinião no vazio.
Porém
o Dia da Consciência Negra e todos os dias do ano são mesmos para darmos nosso
grito de liberdade, mesmo que seja apenas um, já que somos os novos escravos
modernos da máquina do Capital. Quem foi mesmo que disse que hoje os negros são
livres? Quem foi mesmo o falsário que conseguiu até os dias de hoje nos
convencer que trabalhar de segunda-feira a sábado, e até mesmo em domingos e
feriados, sem uma justa remuneração por nossa força de trabalho, seja a tão
esperada liberdade de nossas raízes que vieram da África para aqui sofrer os
horrores e a maldade da escravidão?
Ora,
deixe-nos em paz para pensar como deve ser nossa liberdade, mesmo obedecendo
aos rigores da lei, porque não somos anarquistas, somos gente e somos povo! Foi
o Capital que criou a escravidão, por necessidade nos libertou mentirosamente,
e por necessidade criou os novos métodos de escravidão. Porém vamos aproveitar
para também criar nossos métodos de nos libertar. Ou então a escravidão
persistirá entre em nós!
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