Por Genaldo de Melo

O ser humano é extraordinariamente admirável
como declamava Shakespeare, pois o mesmo tem a capacidade sem limites de criar
mudanças substanciais no espaço de sua atuação como ser humano propriamente
dito. A civilização humana chegou a um estágio tão avançado que jamais as
pessoas que viveram, por exemplo, nos anos cinqüenta imaginariam. Entre os
maiores avanços de nossa civilização está a criação da internet, por meio do
qual mudamos todas as formas existentes de comunicação entre nossos pares, bem
como a descoberta da energia nuclear.
O ser humano alcançou tal desenvolvimento que
ele próprio pode a qualquer momento causar sua própria destruição, e também de
todo o planeta terra em que vivemos, e dependemos para a própria sobrevivência.
Isso porque depois de tantos avanços, e considerando que provavelmente não
alcançamos nada ainda do que se pode ainda ser criado, porque não temos
limites, não aprendemos ainda a criar regras elementares para resolver nosso
mais grave problema de convivência como seres humanos, que é a intolerância.
Não se pode imaginar tamanho absurdo da raça
humana em matéria de intolerância! É inconcebível sem ser intolerante o fato de
que alguns seres humanos, ou grupos sociais liderados por poucos indivíduos,
não conseguem aceitar o fato de que apesar de sermos todos iguais de sangue
vermelho nas veias, somos quase todos diferentes em vários aspectos da vida
humana. A intolerância nesse primeiro quarto de século chegou ao limite em
vários campos da atuação humana. Somos intolerantes nos esportes, na cultura,
na vida social, com nossas ideologias, e principalmente com nossas crenças
religiosas.
Chegamos a tamanho absurdo que a intolerância
muitas das vezes é praticada exatamente por quem mais sofre sobre o signo da
própria intolerância. Mas entre os aspectos que mais têm chocado o mundo nos
anos recentes estão o esporte, a liberdade de ser o quiser na sociedade
respeitando os outros, a liberdade política e as escolhas religiosas. Existem
muitos outros tipos de intolerâncias em todos os aspectos da vida social, mas
como pontos de análises de paradigmas que chocam a sociedade estes são de fato
relevantes e que precisam ser discutidos em nossas sociedades, através de
nossas instituições existentes.
No esporte que deveria ser nossa maior
alegria e instrumento para formação de gerações de seres humanos sadios e
capazes de promover a integração entre os povos vem acontecendo verdadeiros
absurdos. A intolerância permeia entre a alegria e a violência explícita entre
os mais diversos grupos sociais organizados em tornos de símbolos e necessidades
de convivência entre grupos afins. Considerado como o maior espetáculo da face
da terra por muitos o futebol tem sido palco de selvageria entre grupos de
torcedores de agremiações de futebol. É como se a todo o momento, porque um
indivíduo não torce por determinado time de futebol deva ser agredido e mesmo
extinto do convívio social. No Brasil a cada semana a violência entre torcidas
tem chocado a sociedade, capaz de afastar dos estádios de futebol famílias
inteiras que gostam do esporte e gostam ao mesmo tempo de assistir jogos
juntos, porque não se pode mais correr o risco de a qualquer momento você ver
suas crianças poderem ser agredidas ou mesmo assassinadas por vândalos
intolerantes que mais parecem animais em estado puro de natureza, em vez de
humanos torcedores de futebol.
Na questão da liberdade de ter suas escolhas
individuais, ou pertencer a determinados grupos sociais, ou mesmo minoritários,
estamos muitos de nós agindo como verdadeiros animais das florestas densas que
ninguém ousa adentrar, e nem de perto estamos parecendo como indivíduos
civilizados que criamos tanto para melhorar a vida humana na terra. Se um
indivíduo é homossexual, ele é exatamente isso por uma escolha pessoal dele;
ninguém pode renegar, e nem existe nenhum tipo de regra na sociedade
diversificada, de que um indivíduo não pode ser homossexual, pois é escolha
pessoal dele e as regras das constituições democráticas assim permite, ou seja,
a liberdade de ser o que quiser ser desde que respeite os outros e as regras e convenções
sociais definidas sempre coletivamente durante todo o processo civilizatório da
humanidade.
Se o indivíduo é negro, qual é mesmo o
problema da intolerância de cor de alguns indivíduos que na doença de
exclusividade acham que sua cor é humana e a do negro não? Corte as veias de
cada um prá ver a cor do Sangue! Enterre o corpo branco, negro ou pardo em
qualquer lugar para se ver se o pó não vai ser o mesmo!
Uma das maiores intolerâncias dos tempos
recentes aconteceu nas últimas eleições no Brasil. Porque a candidata a
Presidente da República eleita teve mais votos entre os nordestinos, alguns
indivíduos e grupos minoritários com idéias nazistas (porque não se pode
atribuir atitude doentia a grupos sociais de todo um território geopolítico)
chegaram ao ponto de propor castração química dos nordestinos. Tamanha
barbaridade não foi violência física mais intolerância moral contra a região
mais diversa e mais rica do ponto de vista humano do país.
Outro ponto de intolerância de nosso mundo
contemporâneo tem sido a intolerância política de grupos que estão no poder em
diversas regiões do mundo, e do mesmo modo de grupos que estão fora do poder em
situação de oposição. Em alguns casos os fatos são tão absurdos que chocam pela
capacidade desumana que eles têm de querer tomar as rédeas do poder político
pelo uso da força num tempo em que não existe mais espaço tolerável para tanto.
Casos também que vão além do limite de nossa compreensão acontecem quando
utilizam argumentos religiosos para sustentar suas teses do uso da força das
armas. Emblemático hoje o que está acontecendo na Nigéria com a disputa entre o
atual Governo e o grupo Boko Haram. Como pode se explicar a intolerância na
morte de tantos inocentes em nome do poder e de determinadas riquezas que querem
todos eles controlarem?
A intolerância religiosa chegou ao limite no
final de quarto de século. Religiosamente somos todos diversos e fica mesmo
difícil conceber a idéia de que determinada religião é que deve preencher o
resto do mundo com valores, ritos e símbolos. Precisamos compreender que as
três grandes religiões do mundo representam números humanos paritários
praticamente, e a intolerância é tão absurda como se não pudessem existir
religiões, para consolidar a tese de Tolstoi de que precisamos de religião,
mesmo que não concordemos com ela.
Além das três grandes religiões existem
outras que não podem ser tratadas como o mal, pois compreende-se que o Deus é
um só, porém a forma de adorá-lo é que muda de conformidade com a própria
cultura de cada região. Ao Ocidente deixem Jesus e o Cristianismo, ao Oriente
deixem as pessoas com o Bhagavad Gita, Krishna e Buda, ao Oriente deixem o
Corão e Maomé! A quem não está com essas religiões nas mentes e nos corações
deixem a liberdade de escolha!
Intolerância é coisa de selvagens e não de
homens! Se a gente não procurar todos juntos numa só corrente urgente uma
solução para nossa intolerância poderemos desaparecer a qualquer dia sem deixar
vestígios da nossa existência nesse mundo diverso e plural!
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