Pular para o conteúdo principal

O Brasil é muito mais rural do que se calcula oficialmente

Por Genaldo de Melo
Resultado de imagem para fotos da agricultura familiar


Depois de anos de pleno desenvolvimento de Políticas Públicas, ainda que tímidas, para o fortalecimento da Agricultura Familiar, como suporte de uma possibilidade de estratégia de desenvolvimento para o Brasil rural, o novo governo coordenado por Michel Temer tem dado claros recados de que defende tacitamente a tese de que realmente o Brasil não pode ser considerado rural, considerando o anacrônico discurso do Decreto-Lei 311 de 1938, do Estado Novo, que considera que cerca de 82% das populações “absolutamente rurais” são urbanas no Brasil

Reverberar o discurso contra a formulação de Políticas Públicas para o fortalecimento da agricultura familiar é um pecado que ultrapassa todos os limites do bom senso, pois os próprios parâmetros da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) diz claramente que somente pode ser considerado urbano os espaços com densidade demográfica acima de 150 hab/kmª, ou seja, que cerca de 70% dos espaços rurais no Brasil não podem ser considerados urbanos, porque têm densidade demográfica inferiores a 40 hab/kmª, e que vivem exclusivamente da Agricultura Familiar e de processos inerentes à mesma.

Enquanto todos os países desenvolvidos do mundo já estabeleceram políticas e planejamento de Políticas Públicas para promover a estratégia de desenvolvimento no campo, considerando exatamente que perto de 50% de toda a população vive exclusivamente das dinâmicas do mundo rural, o Brasil erroneamente trabalha com o discurso do fortalecimento de economias de escala e fomento exclusivo de monoculturas de exportação. 

Um erro que naturalmente em gerações futuras seremos julgados necessariamente, porque o mundo não gira apenas em torno de áreas urbanas, ou seja, a própria dinâmica do mundo rural está a cada dia mais demonstrando que as áreas rurais estão ficando cada vez mais dinâmicas, e não vivendo exclusivamente daquilo que denominamos como o status quo do Brasil rural, ou seja, que vive apenas do setor agropastoril. E também o Brasil não gira apenas em torno da estampa das 11 áreas de influência de macropólos e dos espaços dos microeixos da economia urbana. 

O discurso estatal mais adequado com nossa realidade deveria necessariamente ser afirmar com políticas e planejamento, considerando a agricultura familiar como multifuncional, pluriativa e o vetor da economia mais correto para gerar emprego nos espaços menos densamente povoados (espaços considerado pela OCDE como rurais), enfrentar as desigualdades e conseqüentemente a pobreza, dinamizar as economias dos cerca de 4.500 municípios considerados rurais no país, segundo os parâmetros da OCDE, das três categorias que são consideradas áreas urbanas apenas para o IBGE (urbanizadas, não-urbanizadas e urbanas-isoladas), e dos quatro tipos de aglomerados rurais (extensão urbana, povoados, núcleo e outros).

Assim, e somente assim, estaremos de fato trabalhando uma estratégia de desenvolvimento para o Brasil rural. Pois o discurso oficial ainda não conseguiu esconder o que é mais óbvio, de que somos menos urbanos do que se calcula oficialmente, obedecendo aos anacrônicos parâmetros do getulismo do anos trinta.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LITERATURA

 

A cada dia aumenta o número de pré-candidatos em Feira de Santana, agora é Dilton Coutinho

Por Genaldo de Melo Mais um nome entra na fogueira das discussões e cogitações para ser candidato ao Paço Municipal em Feira de Santana, e o assunto não deixa de ser cogitado hoje em rodas de conversas, jornais, sites e blogs, além do mundo política da cidade. Dessa vez surge como candidato o radialista Dilton Coutinho, nome bastante conhecido nos meios de comunicação local. Ontem em entrevista no seu programa Acorda Cidade na rádio Sociedade de Feira FM o deputado federal Fernando Torres (PSD) disse ser pré-candidato a prefeito, mas caso Dilton resolva ser do mesmo modo, ele oferece seu partido para abrigar o comunicador como candidato: “Eu sou pré-candidato a prefeito de Feira de Santana, mas se você for Dilton Coutinho eu abro mão. O PSD está a sua disposição amigo Dilton Coutinho”, disse Fernando Torres, presidente do PSD no município. Do mesmo modo a discussão apareceu ontem na Câmara de Vereadores pela vereadora Eremita Mota (PDT e pelo vereador David Neto (PTN).

A verdade sobre o esvaziamento das palavras golpe e "Fora Temer"

Por Genaldo de Melo Com a falta de povo nas ruas a mídia trabalha constantemente o esvaziamento do sentido real da palavra "golpe" que está acontecendo de fato.  A palavra "golpe" repete-se, repete-se, e repete-se como um mantra que perdeu o significado.  Num momento tão crucial como este, em que o projeto de governo eleito pelo voto democrático está sendo trocado por outro completamente diferente e que não passou pelo crivo das urnas, substituíram as grandes mobilizações de massa pela ação individual alegórica, pois se pulverizou a indignação popular apenas na palavra “golpe” nas redes sociais e em cartazes.  É impossível não notar que isso ocorre ao mesmo tempo em que a tradicional mídia jornalística trocou a aguerrida cobertura dos acontecimentos econômicos e políticos por um atual tom de meras trivialidades.  Quem acompanha o noticiário político e econômico não deixou de perceber que a mesma indignação que impulsiona inúmeras matérias jornalísti...