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Equador rechaça editorial de O Globo

Por Altamiro Borges

Na quinta-feira passada (9), O Globo publicou um editorial hidrófobo contra o presidente Rafael Correa, do Equador. Com o título “Correa massacra liberdade de expressão”, o jornal da famiglia Marinho ataca a decisão da Justiça de multar por calúnias o editor e três diretores do diário El Universo e critica a nova lei sobre meios de comunicação aprovada pelo parlamento equatoriano.
O Globo decreta: “Rafael Correa atua para calar a imprensa numa furiosa investida contra a liberdade de expressão que não deixa dúvidas sobre as aspirações ditatoriais de seu governo... [O presidente] resolveu embarcar na demagogia chavista e denominou seu governo de ‘Revolução Cidadã’. Com isso, cada vez mais se parece com os golpistas que o precederam”.

O medo dos “donos da verdade”

O editorial raivoso decorre do medo dos barões da mídia diante dos avanços no processo de democratização da comunicação na América Latina. “Governos como os do Equador, Venezuela e Bolívia (e até o da Argentina, kirchnerista) não conseguem conviver com críticas porque se acham donos da verdade”, esbraveja o arrogante jornal O Globo, ele sim metido a dono da verdade.

Para a famiglia Marinho, que se acha acima das leis e do Estado de Direito, é um absurdo que a Justiça do Equador multe quatro serviçais do jornal El Universo por difundirem mentiras desestabilizadoras. Sem qualquer prova, este veículo oposicionista acusou Rafael Correa de ter ordenado disparos contra um hospital durante a frustrada tentativa de golpe militar em setembro de 2010.

Práticas condenadas ao lixo da História

A famiglia Marinho, que apoiou o golpe de 1964 e o fechamento do Congresso Nacional no Brasil, também acha um absurdo que o parlamento equatoriano, eleito democraticamente, tenha aprovado o “Código da Democracia”, o novo marco regulatório dos meios de comunicação no país. “É assustador como governantes latino-americanos do século XXI teimam em adotar práticas obscuras, ultrapassadas e já condenadas, por inviáveis, ao lixo da História”, conclui o editorial.

Na prática, a famiglia Marinho teme que a ditadura midiática, existente no Brasil, na América Latina e no mundo, seja condenada ao lixo da história. Ela não aceita qualquer regulação do setor, pretende continuar exercendo impunemente o seu poder político e econômico. Marinho, Murdoch, a dinastia do El Universal e outros barões da mídia têm medo da democratização da comunicação, do estimulo a maior diversidade e pluralidade informativas. Estes oligopólios é que exercem uma ditadura obscura e ultrapassada.

Resposta do embaixador do Equador

Diante dos absurdos publicados pelo jornal O Globo, o embaixador do Equador no Brasil, Horacio Sevilla Borja, enviou ontem (13) uma carta à direção da empresa jornalística. Será que ela será publicada na íntegra, com o mesmo destaque que foi dado ao editorial raivoso? Em todo caso, reproduzo-a abaixo:

*****

Ao Senhor Marcello Moraes
Diretor Geral do “O Globo”
Rio de Janeiro- RJ

A eleição do economista Rafael Correa como Presidente da República há cinco anos transformou radicalmente o Equador. Em primeiro lugar trouxe a tão desejável estabilidade política após dez governos na década passada. Por outro lado, vivemos um aprofundamento do sistema democrático: nos cinco anos de Governo do Presidente Correa a população participou por sete vezes através das urnas para eleições de Presidente, Assembléia Constituinte, Parlamento, Governos Locais, assim como plebiscitos constitucionais e consultas populares, processos nos quais a coligação do governo tem triunfado por amplas maiorias em eleições impecáveis com observação internacional. Em terceiro lugar, o Equador conta com uma nova Constituição e um Plano de Desenvolvimento que tem possibilitado um sustentável crescimento econômico – dos mais altos da região – e conquistas sociais transcendentais como a redução da pobreza, da iniqüidade e do analfabetismo.

Durante este processo de profundas mudanças o Presidente Correa tem enfrentado poderosos interesses vinculados a injusta ordem anterior, que tem chegado inclusive a uma tentativa de golpe de estado e a graves calúnias públicas contra sua honra pessoal. Em um diário de circulação nacional, o Presidente foi acusado de haver ordenado ao exército que atirasse contra civis inocentes no interior de um hospital, que é um crime de lesa humanidade. Em um livro ele foi acusado de ter conhecimento e autorizado atos de corrupção em contratos governamentais. O Presidente exigiu dos autores provas das calunias, além da retificação e desculpas públicas, solicitação esta que não foi atendida, pelo qual apresentou querela ante os Tribunais de Justiça que no Equador são autônomos e independentes, do mesmo modo que qualquer cidadão comum que tenha sido difamado maliciosamente apresentaria.

Considero, portanto, que os fatos contradizem a versão do comentário editorial do “O Globo” do dia 09 de fevereiro do mês em curso sobre democracia e ditadura no Equador, e sobre o direito a liberdade de imprensa que o Governo equatoriano respeita e defende ao mesmo tempo em que solicita a erradicação das acusações temerárias sem provas, visto que os cidadãos possuem também o direito de receber as informações verazes.

Portanto, lhe serei grato ao publicar este esclarecimento para que o amigável povo brasileiro que lê este importante diário conte com todas as informações pertinentes.

Horacio Sevilla Borja – Embaixador do Equador

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