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O imperialismo alemão e o futuro do euro

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse nesta terça-feira, 7, que o impacto da saída da Grécia da zona do euro seria "incalculável" e reafirmou a determinação de manter o país na região.
Merkel afirmou que ela não tem nenhuma indicação de que a Grécia deixará o euro e que ela se oporia a este movimento. "Não quero que a Grécia deixe o euro e, portanto, a questão não existe", afirmou em discurso na cidade de Berlim.

Imperialismo

O discurso, de uma indisfarçável arrogância germânica, sugere que a relevância do tema depende da vontade da Alemanha e, mais precisamente, de sua atual chanceler. "Não quero que a Grécia deixe o euro e, portanto, a questão não existe", esbravejou. O desejo dos gregos é irrelevante para a líder direitista.

Não é uma manifestação explícita do espírito imperialista alemão, que tantas tragédias provocou no século 20? De todo modo, o próprio fato de Merkel ter se dado ao trabalho de abordar a hipótese mostra que o problema existe, apesar da retórica e dos anseios contrariados, e é tão relevante quanto preocupante para o futuro da zona do euro e também da União Europeia.

Conseqüências incalculáveis
Não são apenas os críticos da moeda comum e a oposição grega que veem a saída do país helênico da zona do euro como mais do que provável, inevitável ou desejável. Mesmo analistas afinados com o neoliberalismo apostam suas fichas nesta solução, o que ajuda a explicar palavras que a chanceler alemã fez questão de enfatizar em seu discurso: "Não participarei de esforços para empurrar a Grécia para fora do euro. Isso teria consequências incalculáveis."

É verdade que os efeitos deste movimento podem ser desastrosos para o euro, não tanto pela importância econômica relativa da Grécia, pouco expressiva, quanto pelos reflexos na confiança da população e dos investidores internacionais na moeda comum e a possibilidade (que é grande) de efeito dominó.

Dólar fortalecido

É também notório que a desmoralização do euro interessa aos Estados Unidos na medida em que fortalece a posição do dólar como moeda internacional e abafa a polêmica sobre a necessidade de um novo sistema monetário internacional, levantada pela China, Brasil e BRICS. Tio Sam tem interesse na implosão do euro.

Porém, não é menos verdade que a moeda comum se transformou numa camisa de força para as nações altamente endividadas da União Europeia que abriram mão de suas moedas e adotaram o euro, destino ao qual a Grã-Bretanha sabiamente se subtraiu.

Vontade popular

Enquanto permaneceram na zona do euro, os países em crise não terão alternativa às receitas que a troika, capitaneada pelos credores, impõe. Como decretou Merkel em relação à Grécia “não há saída a não ser o país levar adiante reformas”.

Parece que a vontade popular não entra no cálculo da dama germânica, mas é bom lembrar que a classe trabalhadora já protagonizou cerca de 20 greves gerais contra esta orientação (a última nesta terça-feira, 7), que garante a valorização do capital financeiro ao preço de uma inédita depreciação da força de trabalho.

Soberania monetária

Outro caminho ou outros caminhos, como o recurso à depreciação da moeda e à moratória, pressupõe a recuperação da soberania monetária, ou seja, o abandono do euro e o resgate das velhas moedas nacionais, que no caso da Grécia é a dracma (a moeda mais antiga do mundo).

O futuro não está previamente definido. A verdade é que será e em certa medida já está sendo forjado na luta. Dona Merkel não quer a Grécia fora da zona do euro, mas a história não se submete necessariamente à sua vontade.

Ela também certamente não desejava a crise, mas esta emergiu independentemente de sua vontade, como um fenômeno objetivo causado pelas contradições inerentes à reprodução do sistema capitalista e por assimetrias e desequilíbrios (comerciais e financeiros) subjacentes à unificação monetária da Europa.

A crise lançou muitas sombras sobre o futuro do euro. Parece evidente que, nas condições atuais, a moeda europeia é amplamente vantajosa para a Alemanha, mas não serve aos interesses dos povos que habitam a região.

Por Umberto Martins - Vermelho

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