Pular para o conteúdo principal

O JORNAL DOS INDIGNADOS E O AJUSTE GLOBAL

A notícia de lançamento do jornal impresso dos indignados espanhóis é o principal sinal de vida  do movimento desde a vitória da direita nas eleições de novembro, quando Mariano Rajoy, do PP,  obteve 186 cadeiras, de 336, e mais de 44,5% dos votos,contra 28,7% do PSOE. A iniciativa coincide com manifestações de alívio na mídia conservadora diante do que se alardeia como 'sinais' de êxito da estratégia ortodoxa de purgar a crise sem alterar as estruturas que lhe deram origem. Indicadores de emprego nos EUA (criação de 234 mil vagas em janeiro) sugerem que o pior ficou para trás na maior economia do planeta.Embora o estoque de 12,7 milhões de desempregados norte-americanos possa ter opinião diversa, a 'dinâmica' sancionaria o modelo, diz a narrativa mercadista. A queda dos juros para rolar dívidas públicas encalacradas na zona do euro é outra injeção de oxigênio nessa tese, que abstrai o chão movediço no qual se debatem mais de 16 milhões de desempregados na UE, ademais de famílias falidas e do gargalo do crédito -- 'por falta de tomadores solventes', justificou recentemente o presidente do Santander, Emilio Botín.  A coroar esse movimento, da Alemanha chegam notícias de que a popularidade de Angela Merkel , a generala do neoliberalismo de guerra que agora exIge um corte adicional de 25% no salário mínimo grego, está em alta. O que essas coisas tem a ver com o jornal dos indignados? Mais do que a leitura seca dos fatos sugere. A dita 'recuperação' decorre menos das virtudes intrínsecas da receita ortodoxa do que de uma acomodação sistêmica, propiciada sobretudo por um fator: a ausência de programa alternativo à esquerda, capaz de unificar e mobilizar forças sociais na sua implementação (um fiapo de luz brilha na candidatura do socialista François Hollande, na França, a conferir-- leia nesta pág). O fato é que enquanto os executivos do capital não hesitam em  cobrar sacrifícios impensáveis em tempos de paz democrática, o que se assiste no campo progressista é um misto de dissipação e recuos. O projeto do jornal impresso dos indignados condensa um pouco das duas coisas. Até onde se sabe, o veículo não terá redação fixa. Grupos rotativos vão se alternar na edição. Militantes de partidos políticos não terão acesso a cargos diretivos. O conjunto sugere uma rejeição atávica ao poder e aos instrumentos de coordenação indispensáveis  a sua conquista. A contradição não é nova; suas consequências são sabidas. Mudar o mundo sem tomar o poder soa lírico. Mas os efeitos da esmagadora receita de ajuste em marcha sugere que a direita não está disposta a patrocinar essa licença poética.  

(Carta Maior; 2ª feira; 06/02/ 2012)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LITERATURA

 

A cada dia aumenta o número de pré-candidatos em Feira de Santana, agora é Dilton Coutinho

Por Genaldo de Melo Mais um nome entra na fogueira das discussões e cogitações para ser candidato ao Paço Municipal em Feira de Santana, e o assunto não deixa de ser cogitado hoje em rodas de conversas, jornais, sites e blogs, além do mundo política da cidade. Dessa vez surge como candidato o radialista Dilton Coutinho, nome bastante conhecido nos meios de comunicação local. Ontem em entrevista no seu programa Acorda Cidade na rádio Sociedade de Feira FM o deputado federal Fernando Torres (PSD) disse ser pré-candidato a prefeito, mas caso Dilton resolva ser do mesmo modo, ele oferece seu partido para abrigar o comunicador como candidato: “Eu sou pré-candidato a prefeito de Feira de Santana, mas se você for Dilton Coutinho eu abro mão. O PSD está a sua disposição amigo Dilton Coutinho”, disse Fernando Torres, presidente do PSD no município. Do mesmo modo a discussão apareceu ontem na Câmara de Vereadores pela vereadora Eremita Mota (PDT e pelo vereador David Neto (PTN).

A verdade sobre o esvaziamento das palavras golpe e "Fora Temer"

Por Genaldo de Melo Com a falta de povo nas ruas a mídia trabalha constantemente o esvaziamento do sentido real da palavra "golpe" que está acontecendo de fato.  A palavra "golpe" repete-se, repete-se, e repete-se como um mantra que perdeu o significado.  Num momento tão crucial como este, em que o projeto de governo eleito pelo voto democrático está sendo trocado por outro completamente diferente e que não passou pelo crivo das urnas, substituíram as grandes mobilizações de massa pela ação individual alegórica, pois se pulverizou a indignação popular apenas na palavra “golpe” nas redes sociais e em cartazes.  É impossível não notar que isso ocorre ao mesmo tempo em que a tradicional mídia jornalística trocou a aguerrida cobertura dos acontecimentos econômicos e políticos por um atual tom de meras trivialidades.  Quem acompanha o noticiário político e econômico não deixou de perceber que a mesma indignação que impulsiona inúmeras matérias jornalísti...