Pular para o conteúdo principal

Funpresp: as dúvidas proliferam

Editorial Vermelho

A pressa é inimiga da perfeição, diz o dito popular. E também da convicção e do consenso, pode-se dizer no caso do atropelo com que se tenta aprovar o projeto de lei que cria o Fundo de Previdência Complementar para Servidores Públicos Federais (Funpresp). O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), quer que o projeto seja votado nesta terça feira (14) ou, dependendo de acordo com a oposição e com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), em 28 de fevereiro.

Vaccarezza está convencido de ter número de votos suficiente para aprovar o projeto mas em questões desta natureza este é um dos componentes em jogo. O outro, e fundamental, é a convicção de que o projeto atenda aos interesses da categoria à qual se dirige. Neste ponto, as dúvidas proliferam.

O deputado comunista Chico Lopes (PCdoB/CE) reclama da falta de debates sobre esta decisão de tamanha importância. “A sociedade não está acompanhando essa discussão e a categoria precisa ser ouvida”, diz ele.

O sindicalista João Paulo Ribeiro, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), também discorda da proposta, que considera nefasta para a categoria. Julga que ela é privatizante e voltada principalmente para o mercado, sem definir a participação dos trabalhadores na construção e gestão do Funpresp. Teme que ele venha a ser “uma máquina do capital” permitindo que seja “usado pelos bancos e instituições financeiras em transações e especulações”. Para a CTB, diz ele, o fundo não pode ser aprovado pois “não é a melhor opção nem para o trabalhador e nem para o governo, e se configura como mais um processo de privatização”.

O projeto de lei limita a aposentadoria dos servidores ao teto do Regime Geral de Previdência (atualmente de 3.691 reais); os servidores que quiserem se aposentar com valor mais alto precisarão contribuir para o fundo que, assim, funcionará como uma previdência complementar.

Os temores dos sindicalistas, funcionários públicos e parlamentares que querem mais debates sobre o projeto baseiam-se em experiências, principalmente internacionais, nas quais fundos de previdência semelhantes acabaram engordando bancos e instituições financeiras. E que, pela natureza da gestão adotada para estes fundos de pensão, adquiriram um caráter privatista nítido.

Em tese, a criação de um fundo desta natureza não é um problema em si. Os problemas estão relacionados justamente à falta de clareza sobre a gestão e o emprego dos recursos que serão acumulados sob seu controle.

E têm razão aqueles que exigem mais discussão a respeito. O resultado do debate com os funcionários públicos, sindicalistas e parlamentares ligados à luta dos trabalhadores poderá ser duplo, e benéfico para os envolvidos.

Em primeiro lugar, permitirá incluir na lei que cria o fundo as reivindicações sobre sua gestão e funcionamento. Afinal, serão recursos dos servidores públicos, e isso dá legitimidade à reivindicação de controle sobre ele e sobre a gestão da nova entidade.

O outro resultado é a construção democrática do consenso em torno do projeto, que resultará do amplo entendimento favorecido pelo debate de pontos que, hoje, são duvidosos e obscuros.

Para isso, é necessário tempo - tempo para estudar o problema, tempo para debater, tempo para encontrar as formulações que respondam aos interesses e à vontade dos envolvidos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LITERATURA

 

A cada dia aumenta o número de pré-candidatos em Feira de Santana, agora é Dilton Coutinho

Por Genaldo de Melo Mais um nome entra na fogueira das discussões e cogitações para ser candidato ao Paço Municipal em Feira de Santana, e o assunto não deixa de ser cogitado hoje em rodas de conversas, jornais, sites e blogs, além do mundo política da cidade. Dessa vez surge como candidato o radialista Dilton Coutinho, nome bastante conhecido nos meios de comunicação local. Ontem em entrevista no seu programa Acorda Cidade na rádio Sociedade de Feira FM o deputado federal Fernando Torres (PSD) disse ser pré-candidato a prefeito, mas caso Dilton resolva ser do mesmo modo, ele oferece seu partido para abrigar o comunicador como candidato: “Eu sou pré-candidato a prefeito de Feira de Santana, mas se você for Dilton Coutinho eu abro mão. O PSD está a sua disposição amigo Dilton Coutinho”, disse Fernando Torres, presidente do PSD no município. Do mesmo modo a discussão apareceu ontem na Câmara de Vereadores pela vereadora Eremita Mota (PDT e pelo vereador David Neto (PTN).

A verdade sobre o esvaziamento das palavras golpe e "Fora Temer"

Por Genaldo de Melo Com a falta de povo nas ruas a mídia trabalha constantemente o esvaziamento do sentido real da palavra "golpe" que está acontecendo de fato.  A palavra "golpe" repete-se, repete-se, e repete-se como um mantra que perdeu o significado.  Num momento tão crucial como este, em que o projeto de governo eleito pelo voto democrático está sendo trocado por outro completamente diferente e que não passou pelo crivo das urnas, substituíram as grandes mobilizações de massa pela ação individual alegórica, pois se pulverizou a indignação popular apenas na palavra “golpe” nas redes sociais e em cartazes.  É impossível não notar que isso ocorre ao mesmo tempo em que a tradicional mídia jornalística trocou a aguerrida cobertura dos acontecimentos econômicos e políticos por um atual tom de meras trivialidades.  Quem acompanha o noticiário político e econômico não deixou de perceber que a mesma indignação que impulsiona inúmeras matérias jornalísti...