Pular para o conteúdo principal

Como a ultra-direita ameaça a Europa

Por Pavol Stracansky, da Agência IPS, no sítio Outras Palavras:

Poucos dias depois de um ataque a bomba contra um hotel da capital da República Checa, aparentemente com caráter racista, analistas e ativistas alertaram sobre as campanhas terroristas de organizações neonazis, que recebem apoio de movimentos de extrema direita de outros países.

Organizações extremistas de países como a Alemanha, Itália e Rússia oferecem aos movimentos checos orientação ideológica e operacional, além de oferecer apoio em ações de violência racial e estratégias para reunir apoio de setores sociais.

“É um fato constatado que os partidos de ultra-direita checos e alemães têm acordos de cooperação”, disse à IPS a conhecida ativista Gwendolyn Albert. “Os checos agora parecem seguir a tática alemã de contar com uma presença relativamente importante, contar com partidos políticos registrados e organizar manifestações de que participam os que estão comprometidos ideologicamente com a violência racista, com intenção de perpretar algum ato violento”, acrescentou.

“O impacto dos vínculos ultranacionalistas e fascistas russos também é visível, porque os manifestantes de ultra-direita demonstram ter uma organização paramilitar que enfrenta a polícia”, apontou Albert que trabalha para a organização de educação e direitos humanos Romea Roma, vinculada ao povo cigano.

O alerta foi feito no início de março, quando o ministério do Interior da República Checa divulgou um informe sobre a extrema direita no país. O documento assinala que é provável um aumento do número de ataques racistas nos próximos anos, em parte devido à influência de organizações de extrema direita estrangeiras, que usam o violência e o terrorismo – em especial, as russas.

Os grupos neonazis russos (na foto) estiveram envolvidos em campanhas terroristas, como ataques e assassinatos de juízes que haviam condenado extremistas e ativistas de extrema-direita.

Algumas testemunhas arroladas em julgamentos similares na República Checa afirmam que sofrem ameaças e intimidações. No início de março, foi preciso adiar o desfecho de um processo contra um suspeito de praticar ataque racista, por conta de ameaça de bomba.

Organizações neonazis alemãs também têm antecedentes de terrorismo. Há pouco, revelou-se que uma célula alemã chamada “Socialista Nacionalista Clandestina” foi responsável pelo assassinato de nove imigrantes e um policial nos últimos seis anos, assim como de roubos a bancos e atentados a bomba. Além disso, ex-neonazis alemães declararam que há forte cooperação entre grupos de extrema direita de seu país e da República Checa, e que os campos de treinamento de tiro para neonazis de toda a Europa pertencem a organizações alemãs e estão em território checo.

O autor do informe do ministério do Interior, Miroslav Mares, assegurou que as quadrilhas de ultra-direita têm cada vez mais armas. Conseguem armamento infiltrando-se na polícia e em empresas de segurança privada, o que lhes permite ter licença de porte de armas e, em alguns casos, receber treinamento em situações de combate.

Um exemplo de como foram longe estes grupos, em matéria de armar-se, foi o fato, noticiado pela mídia, de terem se identificado, em uma manifestação de grupos de extrema direita, participantes armados com explosivos de uso exclusivo do exército.

O temor a um aumento da violência racista deu-se em meio a problemas raciais, ocorridos em zonas socialmente desfavorecidas do país. No ano passado, houve protestos maciços e episódios violentos no distrito de Sluknov, no norte da República Chec a, após uma onda de ataques e crime que a população local atribuiu aos ciganos.

Alguns analistas que se dedicam ao estudo do racismo, veem, por trás do aumento das tensões, as crescentes dificuldades econômicas. Ele detectaram um aumento de sentimentos negativos contra os imigrantes e as minorias, desde o começo da crise financeira. O próprio informe do ministério do Interior mencionou o agravamento da situação econômica e o aumento da exclusão social como fatores do aumento provável dos ataques racistas.

Mas o sociólogo Mares garante que o terreno fértil para a violência contra minorias foi adubado por algumas figuras políticas destacadas. “Vemos um aumento do racismo ‘comum’. Nas zonas socialmente conflitivas, observa-se a participação da população local em manifestações contra os ciganos, e constata-se que os neonazis são o motor das atividades e preconceitos contra eles”. Mares prossegue: “Agora, ouvem-se declarações racistas de dirigentes políticos que não são de partidos extremistas. Algumas agremiações tradicionais utilizam uma retórica contra os ciganos que poderia estimular mais atividades violentas dos neonazis”.

A extrema direita age para capitalizar o sentimento anti-minoria. Na última década, a maior parte dos grupos ligados a esta corrente, na República Checa, fez um esforço por distanciar sua imagem dos skinheads e converter-se em alternativa política viável. O Partido Justiça Social dos Trabalhadores é a expressão política da extrema direita. Apoia-se especificamente em preconceitos contra a população cigana.

Segundo os estudiosos do fenômeno, as táticas dos extremistas para conseguir seguidores incluem a promoção de sua repulsa não só aos ciganos, mas aos imigrantes em geral, bem como a temas polêmicos para certos grupos sociais, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Para algumas organizações internacionais contra o racismo, a situação só melhorará se os dirigentes políticos tomarem a iniciativa de combater o fenômeno, e se forem aprovadas normas legais para dissuadi-lo. Georgina Siklossy, porta-voz da Rede Europeia contra o Racismo, com sede em Bruxelas, afirmou à IPS: “Os políticos têm a principal e mais importante responsabilidade: não se utilizar de discursos de ódio, que podem incitar ataques racistas e contribuir para um sentimento contra setores minoritários”.

Os programas de prevenção nas escolas são essenciais para mudar a situação, completa Mares, o autor do informe oficial. Mas a comunidade cigana está pessimista. Nos últimos anos, ela foi vítima de uma série de ataques incendiários. Um deles, em 2009, deixou uma criança de dois anos incapacitada para sempre. Nos últimos seis meses, 23 atentados racistas deixaram três pessoas mortas.

Emil Vorac, diretor de uma organização não-governamental cigana, trabalha na cidade da As, onde houve, no início de março, um ataque a bomba contra um hotel em que vivam membros desta comunidade. Ele pensa que tais atos eram previsíveis. “Não me surpreenderam, porque parece que o racismo e a xenofobia aumentam, e a situação piora. Esta é minha experiência, após trabalhar em diversas comissões na região. Seus próprios membros atuam como xenófobos, em muitos casos”.

* Tradução de Antonio Martins

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LITERATURA

 

A cada dia aumenta o número de pré-candidatos em Feira de Santana, agora é Dilton Coutinho

Por Genaldo de Melo Mais um nome entra na fogueira das discussões e cogitações para ser candidato ao Paço Municipal em Feira de Santana, e o assunto não deixa de ser cogitado hoje em rodas de conversas, jornais, sites e blogs, além do mundo política da cidade. Dessa vez surge como candidato o radialista Dilton Coutinho, nome bastante conhecido nos meios de comunicação local. Ontem em entrevista no seu programa Acorda Cidade na rádio Sociedade de Feira FM o deputado federal Fernando Torres (PSD) disse ser pré-candidato a prefeito, mas caso Dilton resolva ser do mesmo modo, ele oferece seu partido para abrigar o comunicador como candidato: “Eu sou pré-candidato a prefeito de Feira de Santana, mas se você for Dilton Coutinho eu abro mão. O PSD está a sua disposição amigo Dilton Coutinho”, disse Fernando Torres, presidente do PSD no município. Do mesmo modo a discussão apareceu ontem na Câmara de Vereadores pela vereadora Eremita Mota (PDT e pelo vereador David Neto (PTN).

A verdade sobre o esvaziamento das palavras golpe e "Fora Temer"

Por Genaldo de Melo Com a falta de povo nas ruas a mídia trabalha constantemente o esvaziamento do sentido real da palavra "golpe" que está acontecendo de fato.  A palavra "golpe" repete-se, repete-se, e repete-se como um mantra que perdeu o significado.  Num momento tão crucial como este, em que o projeto de governo eleito pelo voto democrático está sendo trocado por outro completamente diferente e que não passou pelo crivo das urnas, substituíram as grandes mobilizações de massa pela ação individual alegórica, pois se pulverizou a indignação popular apenas na palavra “golpe” nas redes sociais e em cartazes.  É impossível não notar que isso ocorre ao mesmo tempo em que a tradicional mídia jornalística trocou a aguerrida cobertura dos acontecimentos econômicos e políticos por um atual tom de meras trivialidades.  Quem acompanha o noticiário político e econômico não deixou de perceber que a mesma indignação que impulsiona inúmeras matérias jornalísti...