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Trabalhadores e crise europeia

Por Vito Giannotti - Opera Mundi

Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda e por aí vai. O que significa esta crise europeia? Crise para quem? Quem ganha e quem perde com isso? Quem festeja e quem se desespera? Há um ponto que é central na crise destes países. Em todos eles os banqueiros e os grandes empresários repetem a mesma ladainha: para salvar o país, salvar o euro, salvar a Europa é preciso fazer um grande pacto. Um “pacto social”.

É preciso que “nosso” país, seja ele Grécia ou Espanha ou Itália, volte a ser competitivo, se não todos vamos para o buraco. Jornais e TVs e toda a mídia repetem essa ladainha o tempo todo... até convencer a maioria de que é preciso tomar medidas “técnicas”, não políticas para salvar o país do desastre.

A receita da salvação que o FMI e o Banco Central Europeu dão a cada país é: retirar todos os direitos dos trabalhadores, sem disfarce. O resumo da historinha é deixar que os patrões decidam como e por quanto contratar seus escravos, sem nenhuma lei que atrapalhe. A primeira medida é acabar com qualquer tipo de estabilidade no trabalho. Liberdade total do patrão para demitir sem pagar indenização. Tornar a demissão sem custos.

A segunda é rebaixar os salários sem Justiça e juízes para encher o saco. E isso, no setor público e no privado. A terceira é rebaixar o valor das aposentadorias. De uma hora para outra cortar pela metade o que era recebido. Na Espanha, a lei aprovada pelo Partido Popular (!) na semana passada, dá ao patrão o direito de mandar embora sem nenhum direito quem tiver nove faltas, mesmo com atestado médico, em dois meses.

A quarta medida é a mais cara ao FMI e Banco Europeu: fim do Contrato Coletivo de Trabalho, conquistado com décadas de milhares de greves. Com isso, todas as leis trabalhistas vão pro beleleu. Essa é a crise para os trabalhadores.

O que sobra para o povo destes países? Para os trabalhadores? Não importa o nome do presidente ou primeiro ministro. É a mesma coisa.

Otrabalhadores terão um nível de vida inferior em coisa de 70% ao que era há 30 anos, no polo mais rico do mundo. A alternativa é lutar até mudar toda a lógica do sistema que o neoliberalismo implantou. Lutar com quem? Com quais armas? Só há um caminho, duro, difícil e longo: reconstruir a rede de organizações de luta construídas durante dois séculos.

Reconstruir sindicatos, centrais e partidos de esquerda. O que tem hoje é só lembrança do que foi. É preciso ter clareza da retomada dos velhos temas da luta: conquistar direitos para os trabalhadores, construir outra sociedade que tem um nome antigo, mas atualíssimo, uma sociedade socialista. Sonho? É melhor sonhar e lutar para que o sonho se realize a esperar ajoelhado pedindo esmola até a morte chegar.

*Artigo originalmente publicado na edição impressa 470 do Brasil de Fato
*Vito Giannotti é escritor, ex-metalúrgico, autor de livros sobre comunicação e sindicalismo, e um dos coordenadores do Núcleo Piratininga de Comunicação no Rio de Janeiro

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