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França: o palanque da crise mundial

As eleições presidenciais de abril na França constituem um bom mirante do debate político reaberto pelo esfarelamento da ordem neoliberal. Mal ou bem a França continua a ser uma das fornalhas intelectuais da humanidade; cumpre agora o papel de palanque da crise mundial.

Três programas se entrecruzam na disputa francesa. A 'Frente de Esquerda', liderada por Jean-Luc Mélenchon, procura dar coerência sistêmica às agendas amadurecidas em três décadas de lutas contra a supremacia das finanças desreguladas; a 'França Forte', de Sarkozy, empresta seu lema da república colaboracionista de Vichy e não hesita em responder à crise com cápsulas de xenofobia nacionalista - último recurso da direita antes de sacar os fuzis; e, finalmente, o PS, de Hollande. Este, talvez, enfrente o teste mais difícil de todos: ressuscitar a credibilidade na via eleitoral para o socialismo, em meio a um cenário de terra arrasada da ordem neoliberal, da qual a socialdemocracia européia foi cúmplice e parceira, restando como a sua principal vítima ideológica.

As idéias progressistas perderam hegemonia na França bem antes da crise de 2008, como já demonstrou Emir Sader (
leia o blog do Emir) nesta página. Nos últimos 30 anos, o projeto de construção do socialismo pela via eleitoral foi descaracterizado até se tornar um oximoro com a rendição do governo Miterrand ao credo dos mercados. Eleito em 1981 - seria reeleito em 1988, falecendo em meio ao mandato, em 92 - Miterrand chegou ao palácio do Champs Elysées no contrapé da maré conservadora, a partir da crise do petróleo.

No mesmo ano, Reagan ascenderia à Casa Branca e Tatcher já empunhava o porrete neoliberal há três anos na Inglaterra. Assim emparedado Miterrand cedeu ao torniquete conservador tornando-se o símbolo trágico da baldeação socialdemocrata aos imperativos dos livres mercados. As últimas pesquisas do pleito francês indicam que a extrema direita tem cedido votos à Sarkozy, em número suficiente para ombreá-lo a Hollande, mas Mélenchon conquistou preciosos 10% do eleitorado, o que lhe dá um peso importante no 2º turno em eventual composição com o PS.

O programa socialista ergue pontes que permite a pavimentação de uma frente de esquerda ampliada que faça jus ao nome. Entre outros ítens, prevê 75% de taxação sobre ganhos acima de um milhão de euros; defesa das empresas públicas e rigorisa subordinação das finanças aos interesses da economia e da sociedade. Pode ser apenas o canto do cisne de um centro espremido pela radicalização da crise global. Mas a eventual aliança entre Hollande e Mélenchon em torno de um projeto consistente de alternativa à farra mercadista, tem peso para irradiar um aggiornamento socialista em outras latitudes partidárias. Inclusive nas fileiras do PT brasileiro.

pPor Saulo Leblon - Carta maior

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