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Marx: mais vivo e atual que nunca, nos 129 anos de sua morte

O mundo de hoje se parece da maneira surpreendente ao que ele e seu jovem amigo Engels prognosticaram num texto assombroso: O Manifesto Comunista

Atilio A. Boron - Brasil de Fato

Num dia 14 de março, há 129 anos, morria placidamente em Londres, aos 65 anos de idade, Karl Marx.
Teve a mesma sorte de todos os grandes gênios, sempre incompreendidos pela mediocridade reinante e o pensamento acorrentado ao poder e às classes dominantes.
Como Copérnico, Galileo, Servet, Darwin, Einstein e Freud, para mencionar apenas uns poucos, Marx foi insultado, perseguido e humilhado. Foi ridicularizado por medíocres intelectuais e burocratas acadêmicos que não chegavam aos seus tornozelos, e por políticos complacentes com os poderosos de turno, que repugnavam suas concepções.
A academia teve muito cuidado ao fechar suas portas. Nem ele e nem seus amigo e colega eminente, Friedrich Engels, jamais ascenderam aos claustros universitários.
E mais, Engels, sobre quem Marx disse ser “o home mais culto da Europa”, nem sequer estudou na universidade.
Entretanto, Marx e Engels produziram uma autêntica revolução copernicana nas humanidades e nas ciências sociais: depois deles, e ainda que seja difícil separar sua obra, podemos dizer que depois de Marx, nem as humanidades e nem as ciências sociais voltariam a ser com antes.
A amplitude enciclopédica de seus conhecimentos, a profundidade duas análises, sua empenhada busca pelas evidências que confirmassem suas teorias, fizeram com que Marx, que teve suas teorias e seu legado filosófico dado como mortos tantas vezes, seja mais atual que nunca.
O mundo de hoje se parece da maneira surpreendente ao que ele e seu jovem amigo Engels prognosticaram num texto assombroso: O Manifesto Comunista.
Este sórdido mundo de oligopólios vorazes e predadores, de guerras de conquista, degradação da natureza e saque dos bens comuns, de desintegração social, de sociedades polarizadas e de nações separadas por abismos de riqueza, poder e tecnologia, de plutocracias travestidas para aparentar ser democracias, de uniformização cultural pautada pelo American way of life é o mundo que antecipara em todos os seus escritos.
Por isso, são muitos os que se perguntam, já nos estados com capitalismo desenvolvido, se o século XXI não será o século de Marx.
Respondo a essa pergunta com um sim sem atenuantes e digo que já estamos vendo isso: as revoluções em marcha no mundo árabe, as mobilizações dos indignados na Europa, a potência plebeia dos islandeses ao enfrentar e derrotar os banqueiros e as lutas dos gregos contra os sádicos burocratas da Comissão Europeia, o FMI e o Banco Central europeu, o barril de pólvora dos movimentos Occupy Wall Street, que abarcou mais de cem cidades norte-americanas, as grandes lutas que na América Latina derrotaram a ALCA e a subserviência dos governos de esquerda na região, começando pelo heroico exemplo cubano, são outras mostras de que o legado do grande maestro está mais vivo que nunca.
O caráter decisivo da acumulação capitalista, estudada como nenhum outro n’ O Capital, era negada por todo o pensamento da burguesia e pelos governos dessa classe, que afirmavam que a história era movida pela paixão dos grandes homens, pelas crenças religiosas, pelos resultados de heroicas batalhas ou imprevistas contingências da história.
Marx retirou a economia das catacumbas e não só assinalou sua centralidade como também demonstrou que toda a economia é política, que nenhuma decisão econômica está despojada de conotações políticas.
Além disso, Marx defendeu que não existe saber mais político e politizado que o da economia, discordando com os tecnocratas de ontem e de hoje, que sustentam que seus planos de ajustes e suas absurdas elucubrações economicistas obedecem a meros cálculos técnicos e que são politicamente neutros. 
Hoje, ninguém mais acredita seriamente nessas balelas, nem sequer os personagens da direita (ainda que se abstenham de confessá-lo).
Poderia ser dito, provocando um sorriso malicioso de Marx do além, que hoje são todos marxistas, porém o Monsieur Jordan, esse personagem de Les bourgeois gentilhomme, de Molière, falaria em prosa em saber.
Por isso, quando estourou a nova crise geral do capitalismo, todos correram para comprar O Capital, começando pelos governantes dos capitalismos metropolitanos.
É que a coisa era, e é, muito grave para perder tempo lendo as bobeiras de Milton Friedman, Friedrich von Hayek ou as monumentais sandices dos economistas do FMI, do Banco Mundial ou do Banco Central Europeu, tão inaptos como corruptos e, que por ambas as coisas, não foram capazes de prognosticar a crise que, como um tsunami, está arrasando os capitalismos metropolitanos.
Dessa forma, por méritos próprios e por questões externas, Marx está mais vivo que nunca e o faro de seu pensamento arroja uma luz cada vez mais esclarecedora sobre as tenebrosas realidades do mundo atual.

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