Pular para o conteúdo principal

Folha e PSDB: uma parceria afinada

Por Alexandre Haubrich, no blog Jornalismo B:

A parceira do jornal Folha de S. Paulo com a direita brasileira não nasceu com o PSDB. Emprestando carros aos agentes da ditadura militar, a Folha consolidou sua boa imagem junto aos setores mais conservadores do país. Mais tarde, o mesmo jornal chamou a mesma ditadura de “ditabranda”. O velho regime acabou e o PSDB, cuja maioria dos atuais membros atuava na oposição institucionalizada à ditadura, virou o maior partido de direita do país. Nas últimas eleições, o apoio da Folha aos candidatos do PSDB só não foi mais aberto do que seus ataques aos opositores. Essa amizade ganhou mais um tenro capítulo na última semana, com a estreia da Folha em uma emissora televisão que deveria ser pública, mas foi absolutamente aparelhada pelos governos tucanos em São Paulo.
A TV Cultura, emissora pública, passou a veicular conteúdo produzido por uma empresa privada de comunicação. A Folha agora tem seu programa de TV. É a privatização da programação, e o nascimento de mais um tentáculo da mídia hegemônica. Em 2010 já denunciávamos aqui, ecoando matéria do Blog do Nassif, o sucateamento e o enfraquecimento da TV Cultura de São Paulo durante o governo José Serra (PSDB). Agora, o conteúdo da emissora é privatizado por Geraldo Alckmin, também do PSDB, em uma parceria com a Folha de S. Paulo, retribuindo a este jornal todo o apoio recebido pelo partido nos últimos anos.

O blogueiro Rodrigo Vianna já denunciava o acordo em fevereiro, acrescentando ainda que a revista Veja deverá ter um espaço semelhante, e lembrando que “a Folha já pediu, em editorial, o fechamento da TV Brasil - emissora pública criada pelo governo federal”, e que “a Veja, como se sabe, gosta de escrever Estado com ‘e’ minúsculo, para reafirmar seu ódio ao poder público. Ódio? Coisa nenhuma. A Abril adora vender revistas para o governo. E agora, vejam só, também terá seu quinhãozinho na emissora controlada pelos tucanos paulistas”.

O uso político da TV Cultura pelos governos do PSDB que se sucedem em São Paulo é um retrato preciso da ausência de apropriação da mídia pela sociedade como um direito constitucional à comunicação. Uma emissora pública escancaradamente a serviço de interesses privados, um enorme espaço de propaganda de um jornal privado. Retrato da cultura conformista do brasileiro em relação ao próprio empoderamento. A comunicação ainda é percebida como um privilégio de poucos, a consciência do direito à voz ainda está longe de firmar-se, e a mídia independente precisa ser protagonista nessa mudança de consciência.

O fortalecimento da mídia independente, o desenvolvimento do conteúdo dessa mesma mídia e a pressão organizada sobre os governos podem começar a mudar essa mentalidade. É um conjunto de ações que poderá fazer com que o povo brasileiro tome consciência desse seu direito fundamental e ocupe o espaço que lhe é devido, expulsando do poder os governantes que impedem que isso aconteça e a mídia que insiste em apoiar esses governantes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LITERATURA

 

A cada dia aumenta o número de pré-candidatos em Feira de Santana, agora é Dilton Coutinho

Por Genaldo de Melo Mais um nome entra na fogueira das discussões e cogitações para ser candidato ao Paço Municipal em Feira de Santana, e o assunto não deixa de ser cogitado hoje em rodas de conversas, jornais, sites e blogs, além do mundo política da cidade. Dessa vez surge como candidato o radialista Dilton Coutinho, nome bastante conhecido nos meios de comunicação local. Ontem em entrevista no seu programa Acorda Cidade na rádio Sociedade de Feira FM o deputado federal Fernando Torres (PSD) disse ser pré-candidato a prefeito, mas caso Dilton resolva ser do mesmo modo, ele oferece seu partido para abrigar o comunicador como candidato: “Eu sou pré-candidato a prefeito de Feira de Santana, mas se você for Dilton Coutinho eu abro mão. O PSD está a sua disposição amigo Dilton Coutinho”, disse Fernando Torres, presidente do PSD no município. Do mesmo modo a discussão apareceu ontem na Câmara de Vereadores pela vereadora Eremita Mota (PDT e pelo vereador David Neto (PTN).

A verdade sobre o esvaziamento das palavras golpe e "Fora Temer"

Por Genaldo de Melo Com a falta de povo nas ruas a mídia trabalha constantemente o esvaziamento do sentido real da palavra "golpe" que está acontecendo de fato.  A palavra "golpe" repete-se, repete-se, e repete-se como um mantra que perdeu o significado.  Num momento tão crucial como este, em que o projeto de governo eleito pelo voto democrático está sendo trocado por outro completamente diferente e que não passou pelo crivo das urnas, substituíram as grandes mobilizações de massa pela ação individual alegórica, pois se pulverizou a indignação popular apenas na palavra “golpe” nas redes sociais e em cartazes.  É impossível não notar que isso ocorre ao mesmo tempo em que a tradicional mídia jornalística trocou a aguerrida cobertura dos acontecimentos econômicos e políticos por um atual tom de meras trivialidades.  Quem acompanha o noticiário político e econômico não deixou de perceber que a mesma indignação que impulsiona inúmeras matérias jornalísti...