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Trazer Serra para o campo aberto da disputa


Por Saul Leblon - Carta Maior

A entrevista de Fernando Haddad à editora de Política de Carta Maior, Maria Inês Nassif (leia nesta pág.) corrobora o feeling do ex-presidente Lula para identificar quadros capazes de renovar o espectro progressista da política brasileira. Haddad exibe consistência, serenidade e discernimento para seguir o bem sucedido caminho trilhado por Dilma Rousseff.

Serra terá que engolir as inúmeras vezes que recorreu ao bordão da maior 'experiência política', na tentativa de fragilizar a adversária Dilma Rousseff, na campanha presidencial de 2010. As taxas de aprovação do governo Dilma queimam a língua do candidato da derrota conservadora, privando-o assim do surrado argumento. A dificuldade, portanto, não está no candidato, mas nas peculiaridades da disputa que se inicia. Para Dilma, o percurso até a preferência do eleitor era evidente e quase linear: seria a continuidade de Lula, num ciclo de governo que ajudou a construir e no qual exerceu funções decisivas. Os resultados acumulados pela administração federal em variadas frentes saltavam a blindagem de má vontade e manipulação midiática para a rotina da vida e da casa do eleitor.

Eram a prefiguração de um programa a sancionar. Desta vez a ênfase se inverte: Haddad terá que sensibilizar o eleitor a percorrer um caminho que o afaste da flacidez estratégica e social do ciclo Serra/Kassab na 6ª maior metrópole do planeta. Não será suficiente tratar SP como um Brasil em ponto pequeno. Sim, políticas federais boicotadas anteriormente poderão ganhar maior aderência local na parceria com uma administração petista. Isso não é pouco. Mas há gargalos específicos e esferas de saturação a reclamar propostas genuínas e críveis que pelo menos aflorem esperanças no horizonte sombrio da cidade.

O PT administrou São Paulo duas vezes nos últimos 30 anos; tem iniciativas a resgatar. Há também vitrines de administrações aliadas a exibir. Caso da urbanização dos morros do Rio de Janeiro, por exemplo, onde o drama do tráfico e a violência registram respostas interessantes, ainda que incompletas. Diluir a disputa em dúzias de evocações de uma outra São Paulo possível pode, porém, jogar água no moinho adversário.

A Serra interessaria levar a disputa no banho-maria de um varejo onde a sua imagem desfruta recall suficiente para aglutinar os 30% de intenções de voto que o Datafolha lhe atribui. Obrigá-lo a sair desse abrigo de conforto requer mais que um leque dissolvente de pequenas propostas de recorte quase consensual, que a propaganda tucana cuidará de se nivelar. Haddad terá que correr riscos para trazer o adversário ao debate em campo aberto.

Macrodiretrizes que afrontem o ciclo de entrega da cidade à lógica autorreferente dos seus 'donos' terão que demarcar a candidatura progressista. E fazê-lo ali onde o peso do abandono à própria sorte quase empurra seus habitantes para o abismo da indiferença e da incredulidade. Por exemplo, sacudir a mobilidade estrangulada --por que não proibir carros em grandes avenidas que passariam a dispor de ciclovias e coletivos gratuitos ponta a ponta?.Ou resgatar a democracia como resposta à falência administrativa --por que não apostar em eleições diretas de administrações regionais, encarregadas de gerir um certo percentual do orçamento em regime de participação da cidadania?. Ou ainda, recuperar o direito à cidade pública , inovando nos cuidados com iluminação, calçadas, limpeza, verde, lazer, segurança, amparo à infância e ao idoso, descentralizando-os ao máximo, quando possível, na escala do quarteirão.

Por fim, uma reordenação urbanística que não atenda apenas ao interesse imobiliário dinheiro e, sobretudo, enfatizar em Haddad a sua marca forte, com um piso do professor que atraia os melhores talentos e vocações para o desafio de fazer de São Paulo a capital da escola pública brasileira de qualidade.

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