Por Altamiro Borges
O chamado “deus-mercado” está preocupado com o resultado
das eleições presidenciais na França neste domingo (22). Das cinco pesquisas
divulgadas nesta semana, quatro apontam uma vitória apertada do social-democrata
François Hollande (PS). Ele deverá disputar o segundo turno, marcado para 6 de
maio, com o direitista Nicolas Sarkozy. Já o candidato das forças de esquerda,
Jean Luc Mélenchon, surpreendeu na reta final da campanha e desponta em terceiro
lugar – tornando-se o fiel da balança no pleito.
Diante desta perspectiva eleitoral, a elite rentista da
França passou a adotar o discurso do medo. Nicolas Sarkozy, o candidato dos
banqueiros, atiçou a polêmica nos últimos dias ao alardear que sua derrota
agravará a crise econômica do país, causando a “fúria dos mercados financeiros”.
Na mesma toada, a revista britânica The Economist, a bíblia dos agiotas
internacionais, publicou uma reportagem alarmista sobre os riscos da vitória de
forças políticas “contrárias ao mercado”.
Sarkozy desindustrializou e demitiu
Apesar do terrorismo do “deus-mercado”, os eleitores
franceses parecem já não confiar tanto no demagógico Sarkozy. Afinal, ele foi
responsável por conduzir o país ao desfiladeiro. Em 2012, o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) deverá ser de apenas 0,3% e a própria Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) já afirma que o país está
em recessão. Como consequência da desaceleração econômica, o desemprego volta a
crescer – devendo atingir 10,4% até o final deste ano.
Segundo artigo no jornal Valor, a França passa por acelerado processo de desindustrialização. “Entre 2009 e 2011, nada menos de 880 fábricas foram fechadas e 494 começaram a funcionar. Ou seja, o país tem 385 fábricas a menos do que no começo de 2009... A França é agora o país da zona do euro com a menor parte de valor agregado da indústria no PIB - 9,3% em 2010, comparado a 12,1% na Espanha e 18,7% na Alemanha. Entre 1980 e
Um impulso à esquerda nas eleições
A campanha do social-democrata François Hollande centra-se
exatamente neste ponto. “A desindustrialização da França não é mais uma ameaça,
é um fato consumado”', escreveu recentemente. Ela não propõe medidas radicais
para enfrentar os graves problemas econômicos do país, mas prega mudanças de
rumo na política aplicada pelo direitista Sarkozy, que sempre privilegiou os
interesses do capital financeiro. Defende aumento da tributação sobre os ricaços
e mais investimentos públicos.
Já o candidato Jean Luc Mélenchon, ex-senador que rompeu
com o PS e hoje é deputado europeu pelo Partido de Esquerda, não vacila em
defender uma ruptura com o modelo existente no país. Seu slogan “tomem o poder”
entusiasmou setores da sociedade cansados com a espoliação da ditadura
financeira. Sua candidatura serve, inclusive, para pressionar o vacilante PS.
“Quando não há ninguém mais à esquerda deles, eles vão em direção da direita”,
comenta o cineasta Gérard Miller, apoiador de Mélenchon.
Esta dinâmica da campanha talvez explique porque o “deus
mercado” está tão preocupado com as eleições deste domingo.
Comentários
Postar um comentário