Por Genaldo de Melo
Prática rara na Folha de S. Paulo, o editorial de
página inteira foi utilizado neste domingo para que o jornal
explicitasse sua posição contra o atual presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No texto Submissão, a Folha, conduzida por Otávio Frias Filho, bate duro
no parlamentar fluminense. "O ativismo legislativo que se iniciou com a
gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados, e que Renan
Calheiros (PMDB-AL) não deixou de seguir no Senado, possui o aspecto
louvável de recuperar para o Parlamento um padrão de atuação e de debate
por muito tempo sufocado", diz o texto. "Essa aparência de progresso
institucional se acompanha, porém, dos mais visíveis sintomas de
reacionarismo político, prepotência pessoal e intimidação ideológica." "Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada evangélica se
associa à bancada da bala para impor um modelo de sociedade mais
repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que tem sido a
tradição constitucional brasileira", avança a Folha. O jornal também questiona a forma como se tem feito a reforma política.
"Eduardo Cunha atropelou as próprias instâncias institucionais ao impor
ideias como a do distritão na pauta de votações", diz o texto. "A toque
de caixa, questões intrincadas como a do financiamento às campanhas
eleitorais sofreram apreciações seguidas, e nada comprova mais a
precipitação do processo do que o fato de que, em cerca de 24 horas,
inverteram-se os resultados do plenário." Numa frase que resume o circo, a Folha afirma que o "cidadão assiste a tudo sem sentir que foi consultado". Qual é o resultado disso? "No meio dessa febre decisória, há espaço para
que o Legislativo comece a transformar-se numa espécie de picadeiro
pseudorreligioso, onde se encenam orações e onde se reprime, com gás
pimenta, quem protesta contra leis penais duras e sabidamente
ineficazes", diz o texto. "Os inquisidores da irmandade evangélica, os
demagogos da bala e da tortura avançam sobre a ordem democrática e sobre
a cultura liberal do Estado; que, diante deles, não prevaleça a
submissão."
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