Por Genaldo de Melo

Em tempos recentes uma
assombrosa onda com sua sombra maligna, tem rondado os centeios da sociedade
brasileira, e sem dó e nem piedade tem causado diversos dissabores a chamada
diversidade social, cultural e humana que cultivamos durante quinhentos anos. A
intolerância que nunca tivemos parece enraizada na falta de entendimento de
respeito às diferenças, como se nós fôssemos um país de disputa de tudo e de
guerra como nunca fomos, e está se colocando como a madrasta malvada querendo
mostrar sua luz apagada dos tonéis de ódio de Baudeleare. A intolerância que
nunca tivemos parece que saiu dos contos de fadas reais da Alemanha de Hitler e
da Itália de Mussolini. A intolerância que mesmo que nunca existiu, como nos
ensina em seus tratados Caio Prado e Celso Furtado, mesmo compreendendo nossa
formação como gente, está querendo mostrar sua máscara contra tudo e todos no
Brasil.
A alma hitleriana da
intolerância no sentido mais literal da palavra, e mais esotérica por assim
dizer, começa no Brasil a povoar a diversidade de religião, a cor da pele, a
diversidade de escolha sexual mesmo respeitando os valores da família, e por
último a política. A intolerância que pode transformar nosso país numa terra de
estranhos como nunca fomos, está à flor da pele desabrochando com o estímulo de
alguns irresponsáveis que defendem sempre seus interesses a partir da tese de
quanto pior para os outros melhor para eles. A intolerância fria como um túmulo
está querendo mostrar sua cara em nosso país, e precisamos todos juntos não
combatê-la como Musashi, porque nosso país não é de guerra mas de paz, mas sim prevenir-se
dos seus pretensos resultados.
Não se pode conceber calado o
pecado contra a noção de que a liberdade de escolha de religião ou não, não
seja livre. Cada um nasceu livre para a escolha de qualquer religião, quer seja
ela católica, mulçumana, budista, protestante, africana e outras mais. A
liberdade de escolha religiosa está na constituição brasileira e no conceito
mais literal da palavra democracia. Porque nosso Estado é laico e os
fundamentalistas devem procurar um psiquiatra e respeitar as liberdades
individuais. Querer pautar a sociedade a partir de seus valores intrínsecos,
religiosamente falando, não deveria nem mesmo ser tratado como crime, mas como
desvio de comportamento, porque é intolerância contra os outros, e precisamos
compreender que mesmos os intolerantes vivem entre a gente. Mas devem mudar
urgentemente, porque vivemos e vamos sempre viver juntos.
Tratar a cor da pele como se
fosse diferente é coisa de beócio, porque se cortássemos as veias desses
intolerantes que se acham diferentes veríamos que a cor do sangue em todos é
vermelha. Ninguém em nenhuma localidade de nosso país tem sangue da cor azul,
rosa ou amarela. Independentemente da cor que se apresenta a pele jamais
deveríamos ser intolerantes porque somos todos brasileiros e construímos uma
nação juntos e para todos. O que também não podemos jamais é defender que o
preconceito torto de minorias que se acham exclusiva pela cor da pele, crie supostos
intelectuais também de minorias que devem defender teses de que porque estão na
condição de minorias enxovalhadas devem ser exclusivos, porque como disse antes
o sangue é vermelho em todos e a intolerância vazia de poucos sempre será
vencida pelos todos juntos.
A escolha de sua condição
sexual na sociedade não depende das regras da escolha de minoria
fundamentalista que acha que deve por si só definir as regras para os muitos. A
escolha da sexualidade somente depende do respeito aos outros e manutenção de
sua individualidade, até porque a moralidade conservadora é coisa de minoria
conservadora, mas que se respeitada também respeita, porque quem não respeita
não merece nenhum tipo de respeito. A intolerância com homossexuais não cabe
mais no Brasil, mas também estes não podem achar porque são maltratados por
uns poucos beócios, que são exclusivos na sociedade, porque a sociedade por si
mesma é diversa.
Depois da eleição de outubro
último a pior intolerância surgiu como se estivéssemos na Alemanha dos anos
quarenta. Se querem derrotar politicamente os partidários que estão na condição
de controle do Estado, que derrotem no voto, mas não na intolerância vazia e
torta que as máquinas das imbecilidades estão defendendo a todo custo. O pior
tipo de intolerância e o mais perigoso é a intolerância política, porque ela
por si mesmo cria e estimula a violência, e prova disso temos no resto do
mundo. Porque a guerra é a extensão da política, como a violência é em si
mesma. Quem quer ser intolerante na política deve comprar seu pedaço de terra e
viver só na floresta, mas sabendo que dentro das regras do Estado vai ter que
pagar seus impostos porque a floresta é do Estado, e o Estado pode até ser
considerado monstro, mas o Estado não é intolerante.
Essa assombrosa onda de
sombra maligna que ronda nossos tempos recentes não pode perpetuar-se com uma
Medusa, e sua cabeça de cobras deve ser cortada para o bem de todo, e urgente
por todos juntos. A intolerância deve ser extirpada agora e urgente para o
nosso bem. Para tanto, necessário se faz que todos os tentáculos do Estado e da
Sociedade façam de modo irrepreensível uma aliança que possa por si mesma
conceber os mecanismos capazes de não somente criar as condições de prevenção,
mas de convencimento aos próprios intolerantes, de que com seus instrumentos perigosos
poderão derrubar os centeios da sociedade brasileira ali na frente, porque não
somos como aqueles estados carniceiros e exclusivos que existem em certas
partes do mundo. Somos brasileiros!
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