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Irã na mira do grande domínio

EUA e Israel não encontrarão as mesmas facilidades para repetir o Iraque em 2003 e atacar regime iraniano
 
Por Federico Mayor Zaragoza - Opera Mundi
 
Depois de dar por encerrado o assunto da guerra do Iraque, agora se desvela outro grande objetivo de Israel: atacar o Irã, com a desculpa de sua possível produção de armas atômicas (e Paquistão, China, Índia… países onde deixou de ser possível para ser um fato a posse de bombas nucleares?).

Há anos que os grandes produtores de armamento e de petróleo (ambos integrantes do “grande domínio” do mundo) buscam enfrentar o Irã, como também o fizeram há alguns anos, recorrendo a argumentos falsos, com o Iraque. Não é nenhuma casualidade as reservas de petróleo do Irã serem tão grandes quanto as da Arábia Saudita, podendo até mesmo serem superiores.

Como Israel não precisa falar com o Pentágono para convencê-lo, porque está no Pentágono, começa a preocupar que ocorra algo parecido ao que aconteceu em 2003: notícias e mais notícias sobre as malvadas intenções dos governos destes países até que, sem permissão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, se decida pela ação militar.

No entanto, em 2012 as coisas não acontecerão como em 2003, quando todo o mundo era espectador impassível, amedrontado, silencioso. Agora, milhões de pessoas, de forma presencial ou virtual, reagiriam contra.

Todos juntos podemos, em pouco tempo, acabar com estes abusos intoleráveis, dos quais depois normalmente não se presta contas: mortos, mutilados, refugiados…

Não: não devemos mais permitir estes sinistros abusos de poder. Já não podemos permanecer como espectadores. Chegou a hora de levantar a voz.

O G-8 e o G-20 (os países mais ricos da Terra) demonstram sua incapacidade para a governança mundial, incluída a econômica. É necessária e urgente uma refundação das Nações Unidas.

Só o multilateralismo permitiria, por meio da palavra e da intermediação, evitar os confrontos armados, procedendo a uma regulação imediata e a uma posterior supressão das armas atômicas. A humanidade não deve viver nem um dia mais sob a ameaça nuclear. É, como a morte por inanição, uma vergonha coletiva.

Estes são os autênticos problemas e não as flutuações especulativas das bolsas. Estes são problemas que afetam a humanidade em seu conjunto. Estes são os autênticos desafios.

Uma crise sistêmica exige mudar o sistema, isto é, conferir o poder e a iniciativa à sociedade e voltar a orientar a ação política mediante os princípios democráticos tão bem expressos no preâmbulo da Constituição da Unesco e não mediante os mercados, tanto em nível local e regional quanto global.

Desta forma, seria possível proceder à urgente refundação de um Sistema das Nações Unidas forte e com a autoridade moral que só possuem aquelas instituições capazes de reunir todos os países do mundo sem exclusão.

As ambições hegemônicas que conduziram à pretensão de governar o mundo a partir de agrupações plutocráticas de sete, oito ou 20 países, devem agora dar lugar, como resposta ao clamor mundial que sem dúvida acontecerá em pouco tempo, à cooperação multilateral.

Já escrevi em várias ocasiões diversas fórmulas para que tanto a nova Assembleia Geral e como os Conselhos de Segurança (ao atual seriam acrescentados o Conselho de Segurança Socioeconômica e o Conselho de Segurança Ambiental) permitam o pleno desempenho das funções que, especialmente quando a governança global assim o exige, é necessário dispor de estruturas internacionais adequadas.

Depois da intolerável e imoral intervenção no Iraque, o poder cívico mundial agora deve opor-se com especial firmeza a outras “aventuras” desta natureza, e muito especialmente à que teria o Irã como alvo, tanto por razões geoestratégicas (apresentadas por Israel), como pelas fabulosas reservas de ouro negro.

Para os problemas que o Irã possa apresentar, ou os que já apresentam Iêmen e Síria, a única solução aceitável é, como teria sido no caso vergonhoso da Líbia, a intervenção das Nações Unidas como único interlocutor, contando com o apoio do mundo inteiro.

Refletimos sobre os horrendos números que mostra o balanço da intervenção no Iraque?

Pensamos nos cinco milhões de refugiados, nos milhares de mutilados e mortos? Revisamos quem agora explora os poços de petróleo? Os “povos” já não tolerarão no futuro atrocidades desta natureza.

É certo que os republicanos dos Estados Unidos, que tanto seguem influenciando na política de seu país, redobram seus esforços iniciados na década de 1980 para a demolição do sistema das Nações Unidas.

Abandonaram a Unesco em 1984, depois regressaram quando invadiram o Iraque. Agora tentam novamente paralisá-la não pagando as cotas correspondentes porque a organização decidiu admitir o Estado Palestino, fazendo uso da autonomia que lhe dá a Conferência Geral.

Tratam com denodo ativar o G-20, o G-8 e o G-2 (!) ao mesmo tempo em que voltam as costas à cooperação multilateral. Contudo serão os últimos estertores de um sistema em total declive.

(*) Federico Mayor Zaragoza, ex-diretor-geral da Unesco, presidente da Fundação Cultura de Paz e presidente da agência IPS. Texto publicado na agência Envolverde.

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