A campanha eleitoral na França pega fogo. O presidente Nicolas Sarkozy tenta de tudo para reverter as pesquisas que dão a vitória folgada ao socialista François Hollande no segundo turno. O discurso atual de Sarkozy de ódio contra os imigrantes não está surtindo efeito e recebe questionamentos até do conservadorismo.
Por Mário Augusto Jakobskind*, no Direto da Redação
Se perder as eleições, como indicam as pesquisas, Sarkozy terá de enfrentar como cidadão comum várias questões, uma delas a denúncia segundo a qual a ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Bettencourt, que esteve por longo tempo sequestrada pelas Forças Armadas, Revolucionárias da Colômbia (FARCs) teria feito uma generosa doação de 150 mil euros para a campanha eleitoral de Sarkozy em 2007.
Bettencourt é uma franco-colombiana muito rica, inclusive herdeira do império de perfumes L'Oreal e foi libertada do cativeiro das FARCs com a interferência do governo francês.
Sarkozy nega, aliás nega tudo de que vem sendo acusado. Não poderia ser diferente, ainda por cima em plena campanha eleitoral.
Mas como cidadão comum poderá ter também ter de responder na justiça sobre o caso Karachi. Ele é acusado de responsabilidade na assinatura de contrato para a venda de submarinos franceses ao Paquistão no valor de 825 milhões de euros e o pagamento de cerca 75 milhões de euros em suborno. Sarkozy era Ministro da Fazenda e é acusado de ter se beneficiado da propina.
Como se tudo isso não bastasse, o candidato que quer ganhar a eleição com o discurso de agrado da extrema-direita não de hoje vem sendo acusado de ter sido também bancado em sua campanha presidencial de 2007 por Muamar Kadafi.
O jornal eletrônico Mediapart com base em documentos do serviço secreto líbio revelou que a ajuda não foi pouca totalizando 50 milhões de euros, o equivalente a R$ 125 mihões.
Sarkozy está furioso e se considera vítima de calúnias e acusação "grotesca" a de ter sido bancado pelo regime líbio. Por sinal, antes da ação militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) Sarkozy tinha excelentes relações com Muamar Kadafi.
Nesta quarta-feira, Sarkozy e Hollande estarão frente a frente em debate pela televisão e em cadeia nacional. Analistas estão prevendo muita baixaria, ou seja, acusações pessoais do gênero que os franceses não estão acostumados.
A eleição francesa está sendo um divisor de águas com influência em toda a Europa. Os franceses já conhecem Sarkozy e as urnas ao que tudo indica confirmarão que o consideram um desastre.
Os acontecimentos de 2012 fazem lembrar a eleição de 2002 em que o extremista de direita Jean Marie Le Pen foi para o segundo turno derrotando o socialista Lionel Jospin. Aí, para evitar o pior, ou seja, a ascensão da extrema direita, os socialistas e demais partidos de esquerda votaram em peso no conservador Jacques Chirac, que se elegeu presidente.
Agora, para evitar o pior, ou seja, Sarkozy, a esquerda que se concentrou em Jean Luc Melenchon e demais candidatos votarão em peso em Hollande. Chirac e outros conservadores já declararam voto em Hollande.
Marine Le Pen exortou seus eleitores a não votarem em nenhum dos dois.
De um modo geral a mídia de mercado dos mais diversos quadrantes classificaram Melenchon como candidato da extrema-esquerda. Um equívoco, porque ele representa a retomada dos valores da social-democracia que prega o fortalecimento do estado de bem estar social e de valores humanistas que o Partido Socialista francês deixou no meio do caminho. Não é, portanto, de extrema esquerda, como classifica a mídia de mercado para indispor o setor sobretudo com a clase média.
Como a vitória de Hollande é considerada certa, salvo alguma surpresa de última hora difícil de acontecer, segundo a maioria dos analistas, o mundo estará de olho no provável governo a ser eleito no próximo domingo 6 de maio.
Quando chegar a hora da verdade, Hollande terá de demonstrar a que veio, sob pena de numa próxima eleição ter o mesmo destino de Sarkozy.
E em junho haverá um terceiro turno com as eleições parlamentares, onde até uma neta de Jen Marie Le Pen será candidata. Marine Le Pen, que se acha, quer se tornar a oposição a Hollande e desbancar os partidários de Sarkozy.
Por estas e muitas outras, a França, em plena crise, como toda a Europa, nestes dias torna-se um laboratório político com desdobramentos não de todo previsíveis.
*É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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